Liderança

Tenha um coração terno e uma pele calejada

Por Aaron Menikoff

Aaron Menikoff é presbítero na Igreja Batista da Avenida Terceira em Louisville, Kentucky, escritor para o Kairos Journal, um jornal on-line para pastores, e um dos principais escritores do 9Marks.
Artigo
09.03.2020

Eles queriam conversar sobre a minha pregação. Não fazia muito tempo que eu estava na igreja, mas eles tinham algumas preocupações. Recentemente, algumas mulheres solteiras deixaram a igreja e esses diáconos estavam convencidos de que a culpa era minha. Meus sermões, eles insistiram, eram muito “masculinos”. Eu não sabia o que eles queriam dizer – ainda não sei! Eu certamente não tinha a intenção de pregar sermões masculinos ou femininos. No entanto, eles não estavam satisfeitos.

Vários meses depois, um casal mais velho queria conversar. Eles também tinham algumas preocupações. Era sobre a minha família. Eles ofereceram críticas construtivas, especialmente para minha esposa. Em público, eles eram bastante amigáveis e pareciam gostar muito de nós. Particularmente, eles tinham algumas reservas sobre nós enquanto uma equipe de ministério.

Por volta dessa época, outro membro me disse que algo estava errado com o culto da manhã. Ele não sabia apontar o que era. Ele parecia feliz por eu pregar a Bíblia, mas ele queria algo um pouco menos sério e um pouco mais alegre. Ele disse que nossas reuniões não tinham um “senso” de adoração.

Bem-vindo ao ministério.

A crítica pode ser útil

Se você é um pastor, as críticas vêm no pacote. Esses exemplos são dos meus primeiros anos de ministério. Uma década depois, a igreja que sirvo tem mais unidade do que nunca. Ainda assim, sempre há críticas. Outro dia, um irmão disse que o primeiro ponto do meu sermão era muito longo. Ele estava certo! Esforço-me por atender às críticas piedosas.

“Os ouvidos que atendem à repreensão salutar no meio dos sábios têm a sua morada”. (Pv 15.31). Todo mundo precisa de correção, e um bom líder as receberá bem. “Os lábios justos são o contentamento do rei, e ele ama o que fala coisas retas”. (Pv 16.13). É correto ser exortado a mudar quando for necessário. É bom saber que você está fazendo algo errado quando, de fato, estiver fazendo algo errado. As críticas podem arder a curto prazo, mas, se forem verdadeiras, podemos aceitá-las como um presente do Senhor. “Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir”. (Pv 19.20).

Em pequenas doses, por favor

O pastor maduro sabe que a crítica é útil, mas preferiria que fosse reduzida ao mínimo. Isso ocorre porque a crítica dói. Coloque muitas brasas no fogo e é provável que o bife queime. Acumule muitas críticas ao pastor, e ele provavelmente se esgotará. As críticas, por mais que sejam bem-intencionadas, podem ser prejudiciais em grandes doses. Ninguém prosperará em um estado perpétuo de desânimo. “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra”. (Pv 12.25).

Infelizmente, os pastores não podem controlar nem a frequência e nem a qualidade das críticas que surgem. Algumas delas são maravilhosas, úteis e vivificadoras. Outras críticas são simplesmente desleais, injustas e cruéis. No “Baseball” Um rebatedor não pode pedir ao arremessador seu arremesso favorito e um pastor não pode fazer com que um membro seja compassivo. Às vezes, as pessoas dizem coisas que simplesmente não são verdadeiras.

  • “Você se importa mais com o rol de membros do que com as pessoas”.
  • “Você nunca me disse uma palavra gentil, acho que você não gosta de mim”.
  • “Você só quer que as pessoas obedeçam aos seus comandos, na verdade não está procurando opiniões”.
  • “Você não ama as pessoas mais velhas, se preocupa apenas com os jovens”.
  • “Você é um bom pregador, mas não é tão bom pastor”.

Críticas como essa podem estar completamente desassociadas da realidade. Ou podem ter uma semente de verdade, mas serem arremessadas contra você de maneira maldosa e ofensiva. Sabe-se que as ovelhas mordem seu pastor. Como os pastores devem responder diante de críticas injustas?

Em poucas palavras: não tenha a pele fina, seja calejado, mas não se esqueça de ter um coração terno.

Não tenha a pela fina

O pastor de pele fina não vai durar muito tempo no ministério porque ele tomará todas as perguntas sobre a direção da igreja como uma negligência pessoal. Cada membro que sai parece uma adaga nas costas. Ele tem dificuldade em discernir entre críticas justas e injustas. O Homem-Aranha tem “senso de aranha” – ele sempre sabe quando o perigo está próximo. Pastores de pele fina sempre parecem sentir que uma nova palavra de crítica está chegando.

 

Alguns pastores de pele fina demonizam seus críticos. Eles se veem como guerreiros da verdade e se perguntam por que o resto da tropa não está entrando na linha de batalha. Quando as pessoas sondam o raciocínio por trás de uma decisão, manifestam oposição, ou simplesmente discordam discretamente, um pastor de pele fina considera isso como uma afronta pessoal. Um pastor de pele fina pode não mudar de rumo, mas fica decepcionado e magoado com qualquer confronto.

Outros pastores de pele fina estão tão nervosos que questionam todas as decisões que tomam. Quando as pessoas se opõem à sua liderança, esses pastores rapidamente assumem que devem estar dirigindo o navio na direção errada. Eles baseiam a qualidade de sua liderança no barulho da multidão, em vez da Palavra do Senhor.

De qualquer maneira, o pastor de pele fina se preocupa demais com o que os outros pensam. A opinião deles lança uma sombra longa e desanimadora sobre seu ministério. Ele sempre sente a necessidade de provar algo a si mesmo.  Pastores como esse constroem muros que mantêm as pessoas afastadas. Esse é um lugar escuro e solitário para se estar.

Simplificando, os pastores de pele fina provavelmente não deveriam estar no ministério, porque não durariam muito tempo.

Esteja com a pele calejada

Um pastor de pele calejada se preocupa mais com a aprovação do Deus que ele adora do que com a aprovação da igreja que ele serve. Ele geralmente consegue dormir bem no domingo à noite, porque sabe que o reino de Deus não é abalado por seu sermão menos que estelar. Ele pode ouvir más notícias à tarde – o câncer voltou, minha esposa me deixou – e ainda estará emocionalmente disponível para o jogo de futebol de seu filho naquela noite. O pastor de pele calejada encontra profundo conforto e força na realidade da bondade soberana de Deus.

Como o pastor de pele calejada sabe que o futuro de sua igreja depende do poder do Espírito e não de si mesmo, ele toma decisões que atendem bem a ele e sua família. Ele tira o tempo para descanso de que precisa – mesmo que alguns membros possam questionar suas prioridades – porque sabe que sua família e sua igreja precisam de um pastor bem descansado. Ele diz não a algumas funções da igreja para passar um tempo de qualidade com sua esposa e filhos. Ele reconhece que alguns podem querer que ele esteja mais disponível, mas ele prova que na sua agenda sua família vem em primeiro lugar.

Mais importante ainda, um pastor de pele calejada deixa as ovelhas morderem porque ele sabe, afinal, que são ovelhas! Os cristãos que recebem uma dieta constante de ensino tópico há décadas podem se arrepiar com a ideia de ouvir um livro inteiro da Bíblia capítulo por capítulo. O pastor de pele calejada não se ofende com a oposição deles; ele explica pacientemente por que acha que a pregação expositiva é mais útil. Um pastor de pele calejada pode ser criticado por afastar uma igreja da apresentação musical especial para um canto mais congregacional. Mas ele não fica chateado quando as pessoas concluem erroneamente que ele não gosta de música; ele explica humildemente por que os movimentos que ele está sugerindo são para o bem, a longo prazo, da adoração congregacional a Deus.

Em outras palavras, todo pastor inevitavelmente enfrentará uma enxurrada de críticas. Esse não é o paraíso. Mas o pastor de pele calejada manterá os olhos na cruz, o coração no Senhor e a mão no arado.

E por causa disso, é mais provável que ele permaneça no ministério.

Certifique-se de ter um coração terno

A pele de um elefante pode suportar o sol do deserto do Saara, mas, convenhamos, quem quer abraçar um elefante? Se um pastor de pele calejada não tomar cuidado, parecerá inacessível. Ele pode colocar a fidelidade à Palavra de Deus contra a compaixão pelo povo de Deus.

O apóstolo Paulo é um exemplo muito bom para nós aqui. O mesmo homem que disse aos Gálatas que não buscava a “aprovação dos homens” se comparava a uma “ama que acaricia os próprios filhos” quando descreveu seu ministério aos tessalonicenses. De pele calejada: Gl 1.10. De coração terno: 1Ts 2.7.

Ainda melhor é o exemplo de Jesus. Ele demonstrou ternura notável em relação àqueles que o rejeitariam. O Salvador descreveu a si mesmo como uma “galinha [que] ajunta sua ninhada debaixo das asas” (Lc 13.34). Se nosso rei pode ser tão gentil com Jerusalém, não deveríamos ter compaixão da igreja do Deus vivo?  (1Tm 3.15).

Ser alguém com pele calejada tem seus perigos. Podemos demorar para aceitar boas críticas. Podemos parecer severos, desapegados ou desinteressados nos outros. Podemos assumir que as pessoas à nossa volta têm a pele grossa como nós e fazem críticas de maneira brusca e inútil. Podemos falar com uma força, clareza e abrasividade que magoam as mesmas ovelhas que Deus confiou aos nossos cuidados.

Vamos trabalhar duro para evitar essas armadilhas. Os membros de nossa igreja são preciosos aos olhos de Deus, mesmo quando eles mordem. Se tivermos uma pele muito fina, cairemos sob o peso da decepção deles sobre nós. Se tivermos uma pele muito grossa, afastaremos os irmãos e irmãs que Deus nos chamou para servir e liderar. Portanto, certifique-se de ter um coração terno. O pastor de pele calejada e coração terno está melhor posicionado para ministrar a longo prazo.

 

Original: Be Tender-Hearted and Thick-Skinned.
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.

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