Ministério

Discernindo os sinais do esgotamento pastoral

Por John Henderson

John Henderson é pastor associado na Del Ray Baptist Church, onde se concentra em aconselhamento.
Artigo
15.01.2020

Numerosas vezes por ano, desde que me lembro, converso com pastores que estão em busca de uma forma de deixar o ministério. A razão não é falha moral ou interesse em outra vocação, ou falta de “chamado”. A razão, mais frequentemente, é nebulosa e difícil de descrever. Quando esse pastor fala sobre o ministério, ele usa palavras como: “exausto … desanimado … sem sentido … distraído … solitário”. Não importa o quanto ele durma, beba café ou tente se motivar, o tanque sempre parece vazio.

Isso poderia ser o que as pessoas chamam de esgotamento pastoral? Se sim, como discernimos os sinais? Responder a essas perguntas importantes é o objetivo deste artigo.

O esgotamento pastoral pode ser definido como o momento ou época em que um pastor perde a motivação, a esperança, a energia, a alegria e o foco necessários para realizar seu trabalho, e essas perdas concentram-se no próprio trabalho. Esses aspectos do esgotamento não funcionam isoladamente. Eles se conectam e se sobrepõem. De tempos em tempos, podemos perder motivação ou esperança no ministério. Em qualquer dia, podemos nos sentir exaustos e sem alegria. Mas quando todas as nossas motivações se deterioram de uma só vez, e quando a ausência delas persiste, acho que entramos numa fase de esgotamento pastoral.

Além disso, esses sinais se concentram no trabalho do próprio ministério. Isso distingue o esgotamento pastoral de outras provações: luto após a perda de um filho ou cônjuge, problemas familiares intensos ou a experiência da depressão. Um pastor pode sentir perda de motivação, esperança, energia, alegria e foco no ministério por várias razões. Mas às vezes o próprio ministério se torna o ponto de partida.

A motivação está relacionada às afeições e desejos do coração por trás do ministério. Paulo diz: “o amor de Cristo nos constrange” (2Coríntios 5.14). Ele estava disposto a sofrer espancamentos e aprisionamento “contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. (Atos 20.24). As promessas de Deus o motivaram (2Coríntios 1.20). A saúde espiritual da igreja para a glória de Deus o motivou (2Coríntios 4.15). O esplendor da graça o motivou e a motivação é essencial para a vitalidade pastoral.

Quando perdemos todo o senso de motivação, talvez porque o tenhamos retirado por muito tempo das coisas erradas, podemos estar em estado de esgotamento pastoral. O vento que costumava encher nossas velas desapareceu. O amor de Cristo tornou-se uma ideia vazia. As promessas de Deus e a edificação da igreja parecem distantes. As coisas que costumavam nos empurrar para fora da cama de manhã simplesmente não nos empurram mais.

Esperança se relaciona com o propósito geral e aponta para o ministério. Depois da grande obra de Deus no Monte Carmelo e da derrota dos profetas de Baal, parece que Elias esperava um grande reavivamento. Em vez disso, ele recebeu ameaças de morte de Jezabel. Então Elias fugiu para o deserto. Quando Deus o encontrou, Elias disse: “Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais”. (1 Reis 19:4). Todo o seu zelo por Deus parecia ser para nada. Todos os seus sacrifícios e sofrimentos pareciam acabar no mesmo lugar. Agora ele diz: “bem que eu poderia morrer”.

Quando começamos a perguntar seriamente “qual é o objetivo”? E lutamos para encontrar uma resposta, é provável que já tenhamos cruzado a fronteira para o esgotamento. O imã que costumava nos atrair para a frente perdeu seu poder. A luz maravilhosa no fim do túnel desapareceu. Não mais estudamos, oramos e pregamos com “expectativa e esperança” (Filipenses 1.20). Nós nos tornamos cínicos, sarcásticos e cansados.

Energia refere-se à força física para o ministério. Paulo diz aos tessalonicenses: “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus”. (1Tessalonicenses 2.9). Embora cansado, Paul tinha energia para o trabalho. Embora Jesus passasse as noites sem dormir, ele encontrava forças em algum lugar para o seu trabalho diário.

Quando a exaustão é o nosso estado normal, não importa o quanto durmamos ou descansemos, provavelmente já teremos entrado em um surto pastoral. O combustível que você colocar no tanque simplesmente escoa para fora, ou se assenta no fundo do tanque e azeda sem nunca se inflamar gerando energia real. Parece que o Espírito partiu. Uma persistente falta de energia para o ministério é o sinal mais comum de esgotamento.

Alegria relaciona-se com o prazer espiritual do ministério. Hebreus fala aos membros da igreja sobre o ministério de seus líderes: “para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”. (Hebreus 13.17b). Isso implica que deve haver alegria para o pastor em seu trabalho. As escrituras nos dizem para olhar para Jesus, “o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz”. (Hebreus 12.2).

Quando todo o prazer no ministério se desvanece, quando “os guiava em procissão à Casa de Deus entre gritos de alegria e louvor” tornou-se coisa do passado, nada mais do que uma lembrança vaga, então podemos estar sofrendo esgotamento pastoral. Como resultado, talvez possamos começar a procurar pelo mundo para poder escapar. Quando os fardos do ministério são tão avassaladores que pedimos ao Senhor para nos matar, há algo importante que ele pretende que vejamos (Números 11.10-15).

O foco está relacionado ao envolvimento da mente no ministério. O apóstolo Paulo foi capaz de esquecer o que está por trás “avançando para as que diante de mim estão” (Filipenses 3.13) porque seus olhos estavam fixos no “prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3.15). Como ele não considerou sua vida preciosa, mas considerou a graça de Deus como extremamente preciosa, Paulo concentrou-se nos detalhes da obra designada por Deus (Atos 20.22–24).

Quando se concentrar em nosso trabalho é como escalar uma montanha, quando manter a atenção por mais de cinco minutos parece impossível – ao lado de outros sinais que já discutimos – provavelmente estamos experimentando o esgotamento pastoral. Você se pega regularmente olhando para o espaço? Você lê os mesmos versículos várias vezes sem conseguir entender o significado das palavras? Seus movimentos se tornaram robóticos, seus pensamentos confusos e seus relacionamentos confusos?

Discernir e definir sabiamente o esgotamento pastoral é fundamental para encontrar o caminho certo. Embora esse artigo não seja dedicado à solução, devo pelo menos dizer que a resposta se encontra dentro da graça de nosso Deus, do evangelho de Jesus Cristo e do poder de Seu Espírito.

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