Liderança

Como Mark Dever delega autoridade

Por Jonathan Leeman

Jonathan Leeman é membro da Igreja Batista Capitol Hill, em Washington, D.C., diretor editorial da 9Marks, e autor dos livros “The Church and the Surprising Offense of God’s Love”, “Reverberation”, “Church Membership” e “Church Discipline”. Seu trabalho de doutorado é na área da teologia política.
Artigo
20.10.2020

Ao longo dos anos Mark Dever, pastor sênior da Igreja Batista Capitol Hill, em Washington, DC, se deparou com muitas oportunidades para aumentar sua autoridade, algumas ele manteve, muitas ele delegou. E a maneira como ele delega autoridade moldou a cultura de nossa igreja de inúmeras formas.

Aqui estão 20 formas pelas quais ele distribui autoridade, e em seguida 10 maneiras de como isso molda a cultura da nossa igreja. Algumas aplicam-se apenas a pastores titulares; muitas se aplicam a todos nós.

Maneiras de Delegar Autoridade

1. Fundamentar a igreja no evangelho. Não importa quem esteja ensinando, o evangelho deve ser frontal e central. Mark estabeleceu esse padrão. Quando os relacionamentos e as estruturas de poder são baseados no evangelho, as pessoas usam sua autoridade não para dominar uns aos outros, mas para servir uns aos outros (Mateus 20:25-28).

2. Estabelecer uma pluralidade de equipe com presbíteros contratados e não contratados. Em uma diretoria composta apenas por presbíteros que são funcionários da igreja, cada um pode ter um voto, mas a estrutura de trabalho impõe uma hierarquia. Adicionar presbíteros que não são funcionários à diretoria rompe e nivela essa hierarquia.

3. Limitar o percentual de pregações do pastor titular. Mark, com a concordância dos presbíteros, limita-se a pregar de 50 a 65 por cento dos domingos de manhã. Dessa forma, outras vozes têm a oportunidade de crescer e ganhar autoridade. E a congregação depende mais da Palavra do que de um homem.

4. Criar muitas oportunidades de ensino. Nossa igreja tem cerca de 80 vagas para professores de classes de escola dominical para adultos ao longo do ano (cada vaga é para uma classe com duração de 7 a 13 semanas), além de 52 chances para pregar o devocional de domingo à noite, bem como algumas dúzia de chances para trazer um estudo bíblico na quarta-feira. Ao todo, existem cerca de 150 chances para outros homens instruírem a congregação, e eu nem sequer mencionei pequenos grupos. Quando os homens se provam hábeis para ensinar, eles adquirem autoridade.

5. Raramente (ou nunca) pregar no culto de domingo à noite. Mark nunca prega nos cultos de domingo à noite da nossa igreja. Em vez disso, a igreja ouve um presbítero ou um aspirante a presbítero.

6. Dar a jovens professores a chance de cometer erros. Não consigo pensar em um ou dois casos em que um professor ou um pregador tenha dito algo tão inapropriado que ele não tenha sido convidado a ensinar novamente. Mas de um modo geral, os jovens professores têm muita margem na nossa igreja para serem entediantes e cometerem erros. Uma vez que a igreja depende mais da Palavra do que de Mark, eles têm muita paciência com os jovens.

7. Deixar que os outros roubem suas idéias. Mark dá total liberdade a outros professores dentro da igreja para adaptarem suas anedotas, usarem suas melhores falas e imitarem suas mensagens.

8. Estar disposto a perder votos de presbíteros. Já ouvi falar de outros pastores que “nunca perdem votos.” Quando esse é o caso, quase não faz diferença ter ou não presbíteros. Isso é minar a liderança deles!

9. Ser tardio para falar e falar com moderação em reuniões de presbíteros. Três vezes por ano, os presbíteros recebem alguns pastores de outras igrejas para observar nossas reuniões. Muitas vezes, estes pastores mencionam a sua surpresa com o quão pouco Mark fala, e com o quão dispostos a discordar dele os presbíteros estão.

10. Não ser o presidente em reuniões de membros ou de presbíteros. Dar a um outro homem a chance de ser o presidente que tanto define a agenda quanto lidera a reunião é uma maneira fácil de distribuir autoridade.

11. Deixar que outros presbíteros guiem a congregação em questões difíceis nas reuniões de membros. Quando se trata de guiar a igreja em de casos de disciplina, grandes decisões financeiras, ou outros temas difíceis, o presbítero que estiver mais envolvido pode ser o melhor para guiar a igreja publicamente.

12. Usar um “comitê de convites.” Se você é um pastor que regularmente recebe convites para falar fora de sua igreja, use um comitê de funcionários e/ou presbíteros para ajudá-lo a analisar esses convites. E esteja disposto a deixá-los orientar e até mesmo determinar a decisão.

13. Ser dedicado a uma área na igreja e dar liberdade nas demais. Mark é, em grande parte, dedicado a preparar sermões e mantém uma certa flexibilidade em quase todo resto. Então, se você quiser que a igreja se dedique mais em alguma área, ele vai deixar você cuidar disso e manter distância. Este processo revela outros líderes.

14. Não microgerenciar. Existem poucas áreas que Mark microgerencia, como garantir que seus funcionários estejam presentes em reuniões e cultos no horário. Mas, em quase todo o resto, ele dá liberdade. A microgerência não só esgota um líder, mas também mina a iniciativa dos outros.

15. Rever os cultos semanais. Estruturar um tempo na agenda semanal da liderança da igreja para dar e receber feedback dos cultos de domingo ensina os homens a avaliar, pensar e a amar melhor a congregação. Isso os faz crescer como líderes. E. . .

16. Estar disposto a receber críticas. Mark dá o exemplo incentivando as críticas. Isso dá a outros aspirantes a líderes espaço para abrir suas asas. Se você nunca incentiva a crítica, você está ensinando a todos ao seu redor que eles devem se conformar com as suas preferências ou serão punidos. Líderes não crescem neste tipo de ambiente. Eles ficam enfraquecidos ou vão embora.

17. Convidar presbíteros leigos para dar feedback sobre os cultos. Mark não exige que os presbíteros leigos participem dos momentos semanais de revisão, mas ele sempre os convida a participar e dar feedback.

18. Orar por outras igrejas e outras denominações. Orar publicamente por outras igrejas e denominações ajuda a derrotar o tribalismo e nos deixa focados no evangelho, ao invés de no líder da igreja. Esta oração, por sua vez, gera maior iniciativa pelo evangelho entre líderes em formação na igreja.

19. Ser rápido para perdoar. Mark é uma das pessoas que perdoa mais rapidamente que eu conheço. Alternativamente, abrir mão de autoridade é difícil para alguém que só aponta falhas. Se você só vê defeitos, você não vai confiar em alguém ou confiar a alguém alguma responsabilidade. Mas se você é rápido para perdoar, você vai achar mais fácil confiar e delegar.

20. Alegrar-se com as vitórias dos outros. Você tem que ser o único a fazer o gol, ou você fica feliz em ajudar? Mark se alegra com as vitórias de outros tanto quanto com suas próprias. Se alguém puder fazer o trabalho, ele prefere que o façam. Isso o deixa livre para fazer outra coisa.

Como Distribuir Autoridade Molda a Cultura da Igreja

Quando o líder “no topo” é caracterizado por generosamente delegar autoridade aos seus presbíteros leigos e a outras pessoas da igreja, ele molda a cultura da igreja de uma forma maravilhosa.

1. Ajuda a manter o evangelho como principal. Distribuir autoridade foca os olhos da igreja nos propósitos do evangelho, em vez de no líder.

2. Promove relacionamentos “reais”. Em um ambiente onde a autoridade não é compartilhada, os relacionamentos são caracterizados por política e estratégia. As pessoas ficam defensivas, vulnerabilidades não são expostas e a transparência é minimizada. Mas quando as pessoas se sentem capacitadas pela confiança que nelas foi depositada, elas ficam mais propensas a serem abertas e honestas.

3. Impede que a igreja seja tribalista. Um homem que continuamente distribui autoridade ensina àqueles ao seu redor que ele está mais interessado no sucesso do evangelho, independentemente de quem estiver liderando (ver Filipenses 1:12).

4. Encoraja os membros da igreja a compartilhar recursos. Quando vejo que o líder não está só interessado em si mesmo, eu também me torno inclinado a compartilhar com outros.

5. Destrói as hierarquias sociais naturais. Nossa igreja tem muitas pessoas com empregos “impressionantes”, do tipo que cria hierarquias sociais. Então é surpreendente que os membros interajam como iguais. Por que? Porque o evangelho é mantido no centro. Somos todos pecadores salvos pela graça. Além disso, Mark não usa sua posição para assenhorar-se dos outros. Isso estabelece um padrão.

6. Cultiva a confiança. Quando vejo que o líder não pensa só si mesmo, é mais fácil confiar em suas motivações, mesmo quando ele me pede para fazer um sacrifício.

7. Cultiva a capacidade de aprender e a disposição para receber críticas. Mais uma vez, se eu confio no homem, eu me torno mais disposto a ouvir suas críticas sobre mim. Confio que elas são enraizadas no amor, e não em competitividade.

8. Incentiva a disposição a perdoar. Quando o líder é rápido em perdoar as falhas dos outros, ele está mais disposto a confiar autoridade aos outros. Isso, por sua vez, ajuda os outros a fazerem o mesmo.

9. Encoraja a igreja a ser capacitadora. É difícil que uma igreja que vê o pastor trabalhar continuamente para treinar e capacitar os outros não compartilhe dessa visão e siga o exemplo. Eles verão todos os frutos.

10. Ajuda a igreja a ser voltada para fora. O processo de formação e envio de líderes ajuda a igreja a perceber que o seu objetivo não é apenas fazer a nossa própria casa ser a melhor possível, mas também ajudar outras casas a se tornarem mais felizes e saudáveis.

Ao mesmo tempo, a delegação pode ser mal feita ou feita de forma preguiçosa. É necessário sabedoria para delegar bem. Eu ouvi o Mark dizer que ele supõe que Deus deu a todos algum instrumento para tocar na orquestra, e o papel dele é ajudar as pessoas a descobrirem qual é o instrumento delas.

A questão se resume a atitude do nosso coração: estamos felizes por ver os outros recebendo autoridade, ou nós a guardamos zelosamente, com medo de que outras pessoas nos superem? No primeiro caso, o que estamos fazendo para distribuí-la?

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