Membresia

Como a Membresia da Igreja é Mal Interpretada, Mal Aplicada e Abusada

Por Juan Sanchez

John Sanchez é o pastor pregador da Igreja Batista High Pointe em Austin, Texas.
Artigo
02.09.2025

Infelizmente, muitos cristãos professos hoje veem pouca necessidade da religião “organizada”. Frequentemente, temos que argumentar em nossas aulas para novos membros sobre por que a membresia na igreja é bíblica e pessoalmente benéfica.

Entretanto, pastores comprometidos com a importância da membresia precisam ter cautela. Em nosso justo zelo para corrigir visões deficientes da igreja, podemos ser tentados a um zelo injusto — para estabelecer processos e práticas de membresia que vão além do que as Escrituras exigem. Por mais bem-intencionados que sejamos, quando exigimos dos membros algo que a Bíblia não requer, essas práticas podem nos levar pelo mesmo caminho da igreja em Éfeso, descrita em Apocalipse 2.1-7. Eles cumpriram todas as exigências doutrinárias e eclesiológicas, mas perderam o primeiro amor. Quem quer ser membro dessa igreja?

Para evitar tal legalismo sem amor, consideremos quatro formas em que a membresia na igreja pode ser mal interpretada, mal aplicada e abusada.

Quatro Práticas Abusivas na Membresia

1. Tornar Muito Difícil Entrar na Igreja

Como pastores, somos encarregados de pastorear o rebanho de Jesus (1Pe 5.1-4). Parte dessa tarefa é proteger as ovelhas de lobos ferozes que ameaçam desviá-las (At 20.28-30). É importante implementar processos de membresia que nos ajudem a discernir entre ovelhas e lobos.

Além disso, as Escrituras exigem que os crentes se reúnam “em nome de Cristo”, o que implica que a igreja conhece a fé do candidato e o candidato conhece a fé dos crentes da igreja. Deve haver uma forma de dialogar, como aulas de membresia e entrevistas. Mas, se não formos cuidadosos, esse zelo para proteger a igreja pode se tornar um processo excessivamente pesado. Podemos exigir que candidatos frequentem muitas aulas, cumpram longos períodos probatórios, aceitem confissões de fé detalhadas ou pactos de membros extensos. Podemos até pedir explicações mais profundas do evangelho ou da profissão de fé além do que a Bíblia requer.

Certamente, toda igreja, sob a orientação dos presbíteros, deve estabelecer processos bíblicos e prudentes para proteger o rebanho e acolher novos crentes. Mas não devemos tornar a entrada na igreja exaustiva ou demasiadamente rigorosa.

2. Exigir Mais dos Membros do que a Bíblia Exige

Vivemos numa cultura com pouco ou nenhum compromisso; precisamos lembrar constantemente os membros das expectativas que temos uns dos outros. Uma ferramenta útil é utilizar um pacto de membresia, recitado nas reuniões de membros e em outros momentos apropriados, para lembrar as expectativas bíblicas. Infelizmente, nossa cultura de baixa responsabilidade pode nos tentar a impor expectativas não bíblicas.

Por exemplo, algumas igrejas exigem frequência excessiva. Considere como uma agenda da igreja pode ficar cheia: cultos dominicais, reuniões durante a semana, comissões, ministérios, grupos pequenos, e muito mais.

Durante o seminário, eu era estudante em tempo integral e trabalhava em três empregos (mal dando conta). Teria sido impossível participar de todas as atividades da igreja. Por isso, minha esposa e eu priorizávamos os cultos da manhã e da noite no Dia do Senhor.

Pastores devem ter cuidado para não exigir dos membros participação em ministérios que a Bíblia não impõe. Embora o discipulado seja fundamental, a Bíblia não exige que todo membro participe de grupo pequeno. O discipulado pode acontecer em muitos contextos, e como os membros estão em diferentes fases de vida, é imprudente tornar grupos pequenos obrigatórios. Cada igreja, guiada pelos presbíteros, deve estabelecer as melhores maneiras – “treliças”, se conhece o termo – para cuidar dos membros e incentivar seu crescimento em semelhança a Cristo. Mas não devemos exigir mais do que Jesus exigiu.

3. Cultivar uma Cultura do Medo da Disciplina na Igreja

Pastorar é difícil, muito difícil! É como criar filhos. Você os ensina na disciplina e instrução do Senhor e ora para que abracem Cristo e o sigam todos os dias. Mas chega o momento em que eles precisam fazer sua própria escolha e assumir a fé. Assim, ao pastorear uma igreja, “criamos” os filhos de Deus, os instruímos e oramos para que sigam a Cristo.

Tristemente, nem todos os cristãos perseveram, e nem todos os membros seguem Cristo em arrependimento contínuo. Nesses casos, temos que entrar com a operação de resgate chamada disciplina da igreja (Mt 18.15-20). Mas se não cuidarmos, podemos ser tentados a sempre “segurar a cinta na mão”, intimidar membros no púlpito e usar a disciplina como uma carta na manga.

O medo pode ser um ótimo motivador temporário, mas não muda o coração a longo prazo. Se estabelecermos padrões legalistas que a Bíblia não pede, membros que os desobedecem estarão em rebelião. Jesus lembra que somos servos do rebanho, não seus senhores (Mt 20.25-28). Portanto, devemos guiar, encorajar e alimentar as ovelhas com amor, e não ameaçá-las.

4. Tornar Muito Difícil Sair da Igreja

Queremos que as pessoas saiam da membresia de forma que estejam sob o cuidado de outra igreja e pastores amorosos. Mas, se não tivermos cuidado, essa tentativa pode parecer que membros são propriedade ou prisioneiros, e não irmãos. Assim como devemos ter processos bíblicos e prudentes para receber membros, devemos ter para a saída.

Quando membros saem para outra igreja — exceto se fugindo de disciplina — devemos ajudá-los a encontrar outra igreja fiel ao evangelho para se juntar. Alguns podem não pedir ajuda, outros podem não precisar, mas todos devem ser pastoreados no processo. Lembrem-se: eles são ovelhas de Deus, não nossas.

Ame Suas Ovelhas

Você certamente pode apontar outras formas de abuso. Essas são apenas quatro. Para combater a tentação de abusar da membresia, lembremos que o Cristo ressurreto estruturou a igreja (Ef 4.11) para que homens fiéis, capazes de ensinar outros, cuidem de suas ovelhas (2 Timóteo 2.2), levando-as aos verdes pastos de sua Palavra e protegendo-as de lobos cruéis (At 20.28-31).

Não somos senhores; somos servos. Não somos donos; somos mordomos. Não somos vaqueiros; somos pastores. E guiamos as ovelhas ao Grande Pastor. Que o Senhor nos conceda graça para amar as ovelhas como ele as ama.

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