Membresia

Como o amor pavimenta o caminho para conversas difíceis

Por Garret Kell

Garret Kell é pastor sênior da Del Ray Baptist Church em Alexandria, Virginia.
Artigo
14.01.2021

Recentemente tivemos uma reunião de família difícil. Nossos filhos estavam sendo desrespeitosos, então sentamos na nossa sala de estar para conversar. Palavra duras foram compartilhadas e lágrimas derramadas. Apesar de não ter sido uma confrontação confortável, as crianças sabiam que estávamos compartilhando estas palavras difíceis em amor. Como? Porque é naquela mesma sala de estar que normalmente jogamos jogos, brincamos de luta, lemos as Escrituras, cantamos, dançamos e contamos histórias. Aquela sala é usada primeiramente para amor agradável. Então quando sentamos para ter conversas desagradáveis, eles podem não gostar da conversa, mas eles nunca duvidam do nosso amor por eles.

Uma igreja saudável deve ser como uma sala de estar. O que normalmente marca seus relacionamentos são encorajamentos intencionais (Hb 3.13), instruções das escrituras (Rm 15.14), canções de esperança (Ef 5.19), ações de graça (1 Ts 5.18), choros juntos em tristeza (Rm 12.15), testemunhos alegres (Sl 66.16), hospitalidade generosa (1 Pe 4.9) e comunhão calorosa (Rm 15.7). Quando a igreja é rica nesse tipo de amor, ela fortalece o equidade do relacionamento que dá o apoio à duras conversas.

Nos últimos meses, nossa igreja tem precisado desse tipo de apoio. Nós tivemos várias conversas particularmente difíceis. Quando eu digo difíceis, digo que tivemos que dizer algumas duras verdades para pessoas que amamos.

“Nós temos sérios questionamentos quanto ao seu relacionamento com aquela pessoa.”

“Parece que sua ambição por dinheiro e ser afirmado estão te levando para um território perigoso.”

“Você está tratado seu cônjuge de forma que não trataria nem um inimigo.”

“Receamos que seu pensamento é mais informado pelas notícias e mídias sociais do que as Escrituras.”

“A sua apatia quanto ao sofrimento dos outros é gravemente preocupante.”

“Nós nos sentimos compelidos a te informar que seus padrões pecaminosos te levarão ao julgamento.”

De forma isolada, essas frases podem parecer duras, julgadoras e condenatórias. Mas no contexto de relações amorosas, Deus pode usar essas palavras para dar vida (Provérbios 18.21). Isso não significa que só porque você ama pessoas, você vai sempre falar palavras difíceis da forma certa. Também não significa que só porque alguém te ama que você vai receber essas palavras da forma certa. Mas é necessário tanto dizer palavras duras quanto amar as pessoas que as ouvem porque Deus nos comanda a fazer as duas coisas.

Verdade e amor

Nós somos instruídos a falar “cada um a verdade com o seu próximo” (Ef 4.25). Enquanto o amor e a verdade são relativos na cultura, eles não são relativos na Palavra de Deus. O apóstolo João nos diz, “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos.” (1 Jo 5.2, 2 Jo 6). O amor verdadeiro é definido pela Palavra de Deus. Nós amamos a Deus quando obedecemos seus mandamentos (Jo 14.15) e nós amamos aos outros quando permitimos os mandamentos de Deus a governarem tudo o que pensamos, fazemos e dizemos a eles.

Isso claramente significa que devemos dizer palavras verdadeiras de forma amorosa. Mas na igreja, nós devemos fazer ainda mais. Nós devemos confiar uns nos outros porque amamos uns aos outros. O amor é a razão porque ensinamos (1 Tm 1.5), é a motivação para viver sacrificialmente (Ef 5.2) e nos identifica como filhos de Deus (Jo 12.34-35). Na realidade, se uma igreja não tem amor, ela não tem nada (1 Co 13.1-3).

Nós também amamos quando temos conversas difíceis. Nós não devemos gostar de repreender aos outros, mas devemos os ajudar a honrar a Jesus e experimentar a alegria de obedecer a ele (Jo 15.11). Admoestações mostram amor pois expõem pecados, tratam imaturidade e corrigem o erro (Rm 15.14, 1 Co 4.14, Cl 3.16, 1 Ts 5.12-14).

Paulo admoestou Pedro publicamente porque viu “que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho” (Gl 2.11-14). O amor de Paulo a Pedro, Barnabé, os judeus, os gentios, a igreja e o nome de Jesus o compeliu a ter uma conversa difícil. O amor deve fazer o mesmo conosco.

Pavimentando o caminho

A velha máxima atribuída a Richard Baxter raramente se prova falsa, “se as pessoas vêem que você as ama, você pode dizer o que quiser pra elas.” O que seguem são cinco sugestões que demonstram o tipo de amor que pavimenta o caminho para conversas difíceis.

1. Orar juntos

Os relacionamentos do apostolo Paulo foram marcados por orações. Deus usou orações para tornar Paulo caro aos olhos da igreja e unir o coração de Paulo com as igrejas. Suas muitas conversas difíceis foram feitas com lágrimas e tenra compaixão (At 20.31, 2 Co 11.2). Apesar dele ser mal compreendido as vezes, sua postura de oração provou seu amor por essas igrejas (2 Co; Gl).

Enquanto oramos com e para outros crentes, Deus constrói confiança, amor, empatia e humildade. A oração nos guarda da hipocrisia e cultiva empatia para com os outros. De fato, é difícil menosprezar as pessoas pelas quais você sempre está orando. Ter conversas difíceis é mais fácil com pessoas pelas quais e com as quais você ora com frequência porque vocês dois sabem que sua esperança está no Senhor.

2. Apreciar correção

Ao mesmo tempo que nossos presbíteros compartilharam palavras difíceis nessas últimas semanas, nós também recebemos palavras duras. Alguns membros compartilharam sua decepção e frustração da maneira como conduzimos alguns assuntos difíceis. As conversas foram sinceras e um exercício de humildade – e pra falar a verdade, elas doeram. Mas nós precisávamos tê-las. Nossa liderança deixou alguns irmãos e irmãs machucados, e precisávamos dessa conversa.

Como pastores, não estamos acima da correção. Nós devemos ser modelos de como as receber. Jesus nos fala em Mateus 7.1-5 que nós devemos primeiramente “tirar o argueiro do [nosso] olho” para que então possamos ver claramente para corrigir outros. Os pastores que são reconhecidos por sua humildade, acessibilidade, e habilidade de ser corrigidos serão bem recebidos quando forem corrigir outros.

3. Ser bíblico

Quando as Escrituras são o aspecto central na vida da igreja, é natural que ela seja central nas conversas pessoais. Se nós somos conhecidos por mostrar imparcialidade na nossa pregação, então terão confiança que mostraremos imparcialidade quando nos engajarmos em um conflito. Se nós somos conhecidos por viver de acordo com a Palavra de Deus, então confiarão em nós quando chamarmos outros à viver de acordo com ela também.

Quando confrontando um assunto difícil, abra a Bíblia. Não a use como um bastão opressor, mas como um bisturi de um cirurgião. Quando todos sentamos perante o Livro para ouvir o que Deus diz, isso nos traz humildade e nos ajuda a discernir a diferença entre o pecado e a opinião pessoal. Se comprometa em oração a deixar a voz de Deus ser ouvida claramente e deixe a luz de sua Palavra mostrar o caminho (Sl 119.105).

4. Encoraje sempre

Como pai, é fácil constantemente criticar meus filhos. Se eu não tomo cuidado, a única conversa que temos de fato é quando estou frustrado com eles. Por causa disso, eu tento fazer que encorajamentos sejam proeminentes na nossa casa. Não tem uma equação perfeita, mas eu tento dar três ou quatro encorajamentos para cada crítica.

Igualmente, pastores sempre têm que dizer palavras difíceis. Mas não devemos somente dizer palavras difíceis. Portanto, “encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3.13, NVI). Quanto mais encorajarmos as pessoas com regularidade, mais fácil será quando tivermos que discutir algo potencialmente desencorajador.

Não há nada mais encorajador do que manter Jesus como o centro das nossas conversas. O objetivo da admoestação não é para humilhar, mas para servir uns aos outros pois eleva nossos olhos para Jesus. Visite suas promessas que ajudam na sua fraqueza (Hb 4.14-16). Relembrem uns aos outros que Jesus foi condenado para que eles não tenham que o ser (Rm 8.1). Confie que ele te convida por causa da sua fraqueza e que ele vai te dar graça para buscar paz (Mt 11.28-30, 2 Co 12.9-10, Ef 2.14).

5. Continue confiando

As vezes, conversas difíceis não se resolvem suavemente. A divisão entre Paulo e Barnabé é uma lembrança sombria que conflitos tendem a causar divisões indesejadas (At 15.36-41). Nós devemos ter cuidado para não avaliar a eficiência de uma conversa difícil pela resposta imediata. Sementes plantadas normalmente demoram para brotar. Se as pessoas desejam sair da sua igreja, deixe-as ir de forma que elas saibam que podem sempre voltar quando quiserem.

Há vários anos, nossos presbíteros receberam uma carta surpreendente de um antigo membro. A irmã saiu da nossa igreja três anos depois de receber o que sentimos que foi uma reprovação merecida. Na sua carta, ela nos agradeceu por termos dito aquelas palavras duras. Ela admitiu que na época ela tinha ficado ofendida e com raiva, mas conforme o tempo passou, o Senhor usou a confrontação para ajudá-la a crescer. Hoje, ela está andando com Jesus com fidelidade. Deus usou a resposta humilde dela para nos encorajar.

Você não é responsável pela forma que alguém responde à confrontação. Mas você é responsável pelo jeito que os ama. Conversas difíceis devem acontecer, mas tenha garantia que as pessoas não tenham dúvidas que sua motivação é sempre, sempre e sempre o amor.

 

Tradução: Beca Bruder.
Revisão: Filipe Castelo Branco.

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