Liderança

Cinco textos-chave e aplicação pastoral sobre masculinidade e feminilidade na igreja local

Por P. J. Tibayan

P. J. Tibayan atua como pastor da Bethany Baptist Church em Bellflower, Califórnia. Ele é casado, tem cinco filhos e atualmente está cursando o DMin no Southern Seminary.
Artigo
05.03.2021

Pastores são chamados para ensinar (1Tm 3.2, 4.11-13) e equipar os santos para obedecer a tudo o que Cristo ordenou (Ef 4.11-12, Mt 28.20). Aqui estão cinco passagens que tratam da masculinidade e da feminilidade que devemos ensinar e aplicar para a fidelidade pastoral.

1 Timóteo 2.11-14

11 A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. 12 Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. 13 Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. 14 E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora.

Paulo oferece dois mandamentos e proibições às mulheres na igreja. Ele ordena que as mulheres aprendam de duas maneiras: (1) silenciosamente e (2) com total submissão. Essas duas formas correspondem, respectivamente, à sua proibição: as mulheres não devem ensinar aos homens nem ter autoridade sobre ele.

Paulo não está proibindo todo “ensino”. As mulheres devem ensinar por meio do canto corporativo (Cl 3.16). As mulheres devem ensinar outras mulheres (Tt 2.3-5). As mulheres ensinam em conversas pessoais que incluem homens (At 18.26, cf. Mt 28.20). Paulo proíbe especificamente as mulheres de ensinar aos homens e exercer autoridade sobre os homens no contexto formal da congregação (2.8-10, 3.15). Além disso, o chamado para permanecer em silêncio (1Tm 2.12) diz respeito a ensinar aos homens e não necessariamente a todos os discursos públicos na assembleia mista. Mulheres profetizaram e oraram publicamente (1Co 11.5).

Por que Paulo dá essa restrição para a igreja? (1Tm 3.15). Paulo baseia o mandamento no plano da criação (2.13) e na distorção do plano (2.14). Deus criou o homem primeiro e deu-lhe autoridade enquanto criou a mulher como auxiliadora (2.13). O engano da mulher e a falha do homem em ensinar e exercer autoridade para com sua esposa distorceram a boa ordem de Deus quanto ao gênero.

Conclusão: Paulo ordena que as mulheres aprendam e não ensinem os homens, ou tenham autoridade sobre os homens, na assembleia formal da igreja.

Portanto, os pastores devem ensinar claramente o que é pecaminosamente desobediente, onde estão as áreas cinzentas e o que é permitido para a igreja hoje com base nas palavras e na intenção do apóstolo Paulo. Ore para que Deus levante homens para o ministério pastoral, para que as mulheres floresçam e para que todos experimentem a bondade de Deus em seu plano para o gênero. Desenvolva e discipule homens para liderar. Equipe homens para ensinar e chame alguns deles para exercer supervisão como pastores. Equipar e encorajar todas as mulheres a ensinarem todas as pessoas informalmente e algumas mulheres a expor as Escrituras a mulheres e crianças, formalmente, em contextos de igreja. Dê forma a uma compreensão alegre da proibição de Deus; persiga com prudência a liberdade que Deus dá às mulheres e aos homens no contexto da igreja local. Pregue o bom e sábio desígnio de Deus na criação, queda e redenção.

Falando nisso, agora vamos considerar a criação e a queda.

Gênesis 1.26-28

26 Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”. 27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”.

Deus fez o homem e a mulher à sua imagem para refletir Deus, governando, relacionando-se e reproduzindo. Seu governo reflete o reinado de Deus. À medida que ouvem e respondem a Deus se dirigindo a eles, seu relacionamento reflete a natureza relacional de Deus. Ao se multiplicar, eles refletem a paixão de Deus em expandir globalmente sua glória na alegria de seu povo.

Gênesis 2.15-18

15 O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. 16 E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, 17 mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”. 18 Então o Senhor Deus declarou: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda”.

Antes da mulher ser criada, Deus ordenou ao homem a santa obediência e o encarregou de trabalhar e cuidar do jardim (2.15). Mas não era bom para o homem ficar sozinho, então Deus criou a mulher do homem como uma “ajudadora correspondente a ele” e os casou (2.18-24). O homem foi feito primeiro, dada a tarefa, sozinho era insuficiente. A mulher foi feita depois, descrita como uma auxiliadora para ele completando a bondade do desígnio divino. Deus declara a criação do homem “boa” quando a auxiliadora se relaciona com ele. Deus deseja que todos os homens e mulheres floresçam nessa bondade. Quanto mais próximo o relacionamento, mais intensa é a dinâmica de liderança e auxílio.

Gênesis 3.4-6

4 Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! 5 Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”. 6 Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.

A serpente enganou a mulher. O homem falhou passivamente em ensinar e exercer sua autoridade levando sua esposa a confiar e obedecer a Deus. Ele falhou em cuidar do jardim removendo a ameaça da serpente. Ele voluntariamente escolheu comer o fruto proibido – não apenas porque foi enganado pela serpente.

A partir dessas passagens em Gênesis, os pastores devem abraçar o plano de Deus para o gênero como bom, libertador e doador de vida. Treine seus membros para ver e saborear a bondade de Deus para o gênero, para que cumpram com alegria sua masculinidade ou feminilidade. Os pastores devem ser um exemplo de liderança masculina. Evite a passividade. Tome a responsabilidade. Abrace a carência. Procure humildemente a ajuda única das mulheres da igreja enquanto você apascenta fielmente todo o rebanho.

Agora vamos ver como esse design se aplica ao casamento.

Efésios 5.22-33

22 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, 23 pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. 24 Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. 25 Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela 26 para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, 27 e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. 28 Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. 29 Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, 30 pois somos membros do seu corpo. 31 “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne”. 32 Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. 33 Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito.

Paulo define como maridos e esposas devem andar com cuidado (5.15), deixando-se encher pelo Espírito Santo (5.18). A esposa deve se submeter ao marido. Porque o Senhor ordena, a esposa não deve se submeter ao marido contra a Palavra do Senhor. Em outras palavras, quando um marido leva sua esposa ao pecado, a esposa deve rejeitar essa liderança enquanto mantém um espírito submisso e o desejo de uma liderança não pecaminosa. A submissão da igreja a Cristo exemplifica a submissão da esposa. O verdadeiro casamento entre Cristo e a igreja exemplifica e cumpre o casamento terreno.

Por outro lado, o marido deve amar sacrificialmente sua esposa em direção à santidade, purificando-a com a Palavra de Deus. A verdade de Deus deve ser falada para alimentar sua fé e santidade. Ele deve amar sua esposa de duas maneiras: (1) como Cristo sacrificou-se pela igreja, e (2) como o marido ama incessantemente seu próprio corpo e cuida de si mesmo. Paulo fundamenta o “amor pela esposa no cuidado próprio” na união de uma só carne de marido e mulher. O marido e a esposa são um. Portanto, negligenciar a esposa realmente e sempre leva à negligenciar a si mesmo.

Como então devemos pastorear? Ore para que os homens cresçam em amor e liderança. Ore por uma transformadora cultura de casamento na igreja. Ore por alegre submissão a Deus. Ensine às esposas que sua submissão aos maridos é uma expressão de sua submissão a Cristo. Pregue a bondade da submissão e do amor sacrificial pela alegria em Cristo. Defina clara e constantemente o amor bíblico e centrado em Cristo. Defina o objetivo da santidade. Previna-se com o fato de como Satanás pode abusar até do ensino bíblico. Mantenha os homens responsáveis por amar, liderar e servir. Equipe os membros para se submeterem e amarem em suas situações atuais. Aconselhe os membros em suas dificuldades conjugais. Seja modelo de liderança humilde e amor pela santidade de sua esposa. Você está crescendo em amar e servir sua esposa? O seu deleite pela santidade dela está aumentando?

Vamos dar uma outra olhada na questão do gênero na igreja.

1 Coríntios 11.2-9

2 Eu os elogio por se lembrarem de mim em tudo e por se apegarem às tradições, exatamente como eu as transmiti a vocês. 3 Quero, porém, que entendam que o cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus. 4 Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a sua cabeça; 5 e toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é como se a tivesse rapada. 6 Se a mulher não cobre a cabeça, deve também cortar o cabelo; se, porém, é vergonhoso para a mulher ter o cabelo cortado ou rapado, ela deve cobrir a cabeça. 7 O homem não deve cobrir a cabeça, visto que ele é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. 8 Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; 9 além disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.

1 Coríntios 14.29-35

29 Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem cuidadosamente o que foi dito. 30 Se vier uma revelação a alguém que está sentado, cale-se o primeiro. 31 Pois vocês todos podem profetizar, cada um por sua vez, de forma que todos sejam instruídos e encorajados. 32 Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. 33 Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos, 34 permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a lei. 35 Se quiserem aprender alguma coisa, que perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja.

Paulo quer que homens e mulheres expressem o desígnio de Deus para o gênero, ao orar ou profetizar na assembleia. Os homens devem refletir a liderança de Cristo sobre eles. As mulheres devem refletir a liderança do homem sobre elas. Paulo novamente fundamenta a liderança do homem sobre a mulher na ordem e plano de sua criação (11.8-9). Para que não pensemos que a submissão é uma coisa negativa, Paulo dignifica a submissão sob a liderança referindo-se à submissão de Cristo a Deus (11.3).

As mulheres devem orar e profetizar de uma forma que comprovadamente honre duas verdades: a mulher é a glória do homem e o homem é a cabeça da mulher (11.6b). Embora as mulheres possam profetizar, elas devem fazer isso de forma “sujeita aos profetas” (14.32). Alguns aspectos de como expressamos autoridade e submissão mudam com a cultura. Mas os princípios bíblicos que sempre embasam esses símbolos permanecem os mesmos – os homens recebem liderança no lar e na igreja e nunca devemos agir de forma a subverter essa ordem.

Embora as expressões culturais mudem, os cristãos devem compreender e considerar a cultura onde vivem e servem. F.F. Bruce escreveu: “Não há nada de frívolo nesse apelo às convenções públicas de elegância. Ser seguidores do Jesus crucificado era em si pouco convencional, mas as violações desnecessárias das convenções deveriam ser desencorajadas.”[i]

Pastores, ensinem e aceitem a liderança e a submissão. Compreenda e utilize cuidadosamente as expressões da sua cultura. Reflita teologicamente sobre os mandamentos e princípios bíblicos. Por exemplo, liderança de gênero e submissão na igreja estão conectadas à maneira como Deus se relaciona com Cristo. Discirna, pelas Escrituras, as formas prudentes de as mulheres participarem das reuniões. Enquanto as mulheres participam publicamente, comunique com alegria o desígnio de Deus para a liderança masculina de maneiras culturalmente eficazes e biblicamente fiéis.

Devemos ensinar mais um texto usado nesta discussão de gênero.

Gálatas 3.28

Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.

Nesse contexto, Paulo afirma que os santos da Galácia são todos justificados e adotados como filhos de Deus pela fé, não por meio das obras da aliança da lei mosaica (3.24-26). Por que o povo adotivo de Deus não está mais sob a guarda da aliança da lei? Paulo responde: “pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram.” (3.27). Estar revestido de Cristo resolve nossa justificação. As distinções feitas pelo pacto da lei entre judeus e gregos são irrelevantes para justificação e adoção. Não há pré-requisito de etnia, gênero ou status econômico para ser descendência e herdeiro prometido de Abraão (3.29).

Especificamente, Deus deixou de lado a distinção entre homem e mulher para justificação, adoção, herança e união com Cristo. Paulo não oblitera gênero em seus outros escritos, afirmando a irrelevância do gênero para justificativa. Assim, Paulo pode, mais tarde, escrever 1 Timóteo 2.11−3.7 ou Efésios 5.22-33 e assumir que os cristãos farão as distinções de gênero adequadas para o casamento e a liderança da igreja local.

Os pastores devem servir, honrar e abençoar homens e mulheres como igualmente dignos e valorizados na igreja. Assegure-se de que nossas mulheres não sejam tratadas como menos dignas ou menos valorizadas. Onde a Bíblia faz distinções de gênero significativas, vá e faça o mesmo. Onde a Bíblia considera o gênero insignificante, vá e faça o mesmo. Por último, reserve tempo pastoral suficiente para traçar estratégias e supervisionar as mulheres em sua igreja, para ter certeza de que estão crescendo em convicção bíblica, caráter santo e competência ministerial para boas obras.

A Palavra de Deus é uma dádiva incomparável. Sejamos nós, pastores, não apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes e professores fiéis para a glória de Deus e a saúde de nossas igrejas.


[i] F. F. Bruce, 1 and 2 Corinthians (The New Century Bible Commentaries, Eerdmans and Marshall, Morgan & Scott, 1971).

 

Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.

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