Liderança

Uma cura para o esgotamento pastoral: A pluralidade de pastores com o mesmo pensamento

Por Jason Dees

Jason Dees é pastor titular da Valleydale Church em Birmingham, Alabama, EUA.
Artigo
09.03.2020

“Nunca forneça seu número pessoal a ninguém em sua congregação. Se você se aproximar muito dessas pessoas, vai se arrepender”.

Foi esse o conselho de um pastor quando comecei no ministério pastoral. Esse homem tinha tido muito sucesso no ministério e era um comunicador muito talentoso. Ele liderou duas igrejas muito grandes e acho que seu conselho foi dado com uma preocupação sincera tanto por mim quanto por meu ministério. lamentavelmente, porém, esse homem tinha um entendimento infeliz e, francamente, não bíblico, do ministério pastoral.

Uma família, não uma empresa

No momento atual, é fácil pensar que o trabalho do pastor é construir um mecanismo eficaz que produza produtos cristãos úteis: bons sermões, boa música, um ministério infantil vibrante e moralmente instrutivo. Em outras palavras, é fácil ver o trabalho de um pastor como se fosse o de um CEO. Mas a definição bíblica de ministério pastoral é mais parecida com o que Pedro escreve em 1 Pedro 5.2–4:

“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”.

Quando você examina como a igreja é descrita no Novo Testamento, pode ver que os autores usam palavras como “família” (1Tm 5.1–2, Ef 3.14, 2Co 6.18, Mt 12.49 –50, 1Jo 3.14–18), “casa” (Gl 6.10, Hb 3.6), “noiva” (Ef 5.32) e “corpo” (1Co 12.12 –27, Ef 4. 15-16). Em outras palavras, a linguagem que o Novo Testamento usa ao falar sobre a igreja não é a linguagem do mercado; é linguagem da aliança. Não é um a linguagem de troca de mercadorias; não é a linguagem para oferecer o melhor produto da cidade; não é uma linguagem de marca; pelo contrário, o Novo Testamento usa linguagem relacional; usa uma linguagem de dependência uns dos outros – assim como uma família, uma casa, uma noiva e um corpo.

Pastores precisam de outros pastores

Quando um pastor começa a entender isso, ele se vê mais como pai ou pastor e menos como gerente ou chefe. Ele verá seu trabalho menos como um homem que administra uma organização e mais como um homem que cuida de pessoas e procura discipular, guardar, proteger e estimular outras pessoas à fé e a boas ações.

Quando essa transformação acontece no coração de um homem, ele se torna verdadeiramente um pastor. E uma vez que essa transformação ocorra, ele desejará cooperadores para esta tarefa, a fim de servir a igreja. Ele perceberá que não pode cuidar da igreja sozinho – como um CEO – e, portanto, desejará homens que possam fazer mais do que administrar seu mecanismo de ministério. Ele desejará homens pastores com diferentes dons, pontos de vista e perspectivas.

Uma pluralidade de presbíteros é uma conclusão natural para aqueles que entendem corretamente a igreja do Novo Testamento e o papel do ministério pastoral. Mas mais do que isso, uma pluralidade de presbíteros é a conclusão e expectativa bíblicas.

Por todo o Novo Testamento – de Atos a Tito e 1 Pedro – a pluralidade de anciãos é recomendada e modelada. Uma congregação saudável precisa do cuidado e supervisão de mais de um homem, e uma pluralidade de presbíteros oferece muitos benefícios particulares: melhor ensino, uma perspectiva congregacional mais ampla, uma variedade de dons de liderança e responsabilidade entre os líderes. Essa lista poderia continuar indefinidamente.

Conclusão

Felizmente, o Senhor me deu conselheiros sábios que me ajudaram a ver que o conselho que recebi para me isolar da congregação não era certo nem sábio. Desde aquela conversa, há muitos anos, o Senhor me permitiu fazer a transição de igrejas estabelecidas para uma pluralidade de presbíteros e plantar uma igreja que já começou com uma pluralidade de presbíteros.

Promover a transição do governo de uma igreja, ou estabelecer o governo em uma igreja, são empreendimentos desafiadores, mas esses desafios são muito menores que o desafio de pastorear corretamente uma congregação por conta própria. Afinal, quando você está por sua conta, na melhor das hipóteses, vai cuidar das almas que foram confiadas a você, e na pior das hipóteses, ignorar muitas delas por falta de tempo.

Graciosamente, por sua Palavra, o Senhor nos deu uma maneira melhor de liderar sua igreja. Ele espera que uma pluralidade de homens talentosos e qualificados cuide de sua noiva. Se você atualmente é pastor de uma congregação que não tem homens qualificados além de você, faça duas coisas: comece a orar sinceramente para ter esses homens e, segundo, reconsidere se, talvez, seus padrões não sejam mais elevados do que os da Bíblia.

Você será grato por esses homens hoje. Mas pastor, você ficará ainda mais agradecido por eles no último dia, quando prestar contas daquelas almas que Deus confiou aos seus cuidados (Hb 13.17).

 

Original: One Cure for Burnout: A Plurality of Like-Minded Shepherds.
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.

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