Membresia

A Membresia da Igreja é um Ofício e um Trabalho

Por Jonathan Leeman

Jonathan Leeman é membro da Igreja Batista Capitol Hill, em Washington, D.C., diretor editorial da 9Marks, e autor dos livros “The Church and the Surprising Offense of God’s Love”, “Reverberation”, “Church Membership” e “Church Discipline”. Seu trabalho de doutorado é na área da teologia política.
Artigo
02.09.2025

Cristãos têm uma longa tradição de se referir aos presbíteros e diáconos como “oficiais” da igreja. Essa nomenclatura reconhece corretamente o papel e as responsabilidades que as Escrituras dão a nossos líderes. Também aponta para a honra devida aos pastores (1Tm 5.17). Pessoas mostram respeito a oficiais, certo?

Não quero diminuir isso.

Mas… a membresia da igreja também é um ofício. É um trabalho que vem com autoridade e responsabilidade. Podemos chamar um tenente de “oficial” sem diminuir a honra de um general.

O que está em jogo aqui não é apenas acadêmico, mas pastoral e bíblico. Muitos cristãos hoje veem sua relação com a igreja local de forma consumista — como se igrejas fossem postos de gasolina. Você vai uma vez por semana para se abastecer espiritualmente, procura o posto com o preço mais baixo e o lava-rápido. Talvez entre no programa de fidelidade. A membresia da igreja é esse programa de benefícios. Lealdade à marca traz vantagens extras.

Frequentemente dizem “membresia da igreja não está na Bíblia” porque tem algo “programático” na cabeça. E estão meio certos: isso não está na Bíblia. Mas eles perdem o que lá está. A membresia da igreja é um trabalho. Espera-se que você apareça para trabalhar (Hb 10.24-25). Você tem autoridade para exercer, tarefas para cumprir, privilégios para desfrutar, reputação corporativa para proteger, riscos para suportar e lucros para compartilhar. Se algo, precisamos pensar menos como consumidores e mais como proprietários. Você investiu. Você tem participação nas ações.

O que é um Ofício?

O presbiteriano Charles Hodge definiu um ofício assim:

“O ministério é propriamente um ofício, porque não é algo que pode ser assumido à vontade por qualquer um. O homem deve ser nomeado por alguma autoridade competente. Envolve não só o direito, mas também a obrigação de exercer certas funções ou cumprir determinados deveres; e confere certos poderes ou prerrogativas que os outros devem reconhecer e respeitar.”[1]

Assim é com todo membro da igreja. Nem todos podem ser membros da igreja. Apenas os que se arrependem, creem e são batizados.

Ninguém tem autoridade para tornar-se membro por si só. A igreja é que deve conceder essa posição.

E nenhum membro está sem funções, deveres, poderes ou prerrogativas. Todo membro os possui, e os outros devem reconhecer e respeitar isso.

De onde vem esse Ofício?

Aqui está a parte bíblica interessante: o ofício de membro da igreja é a versão da nova aliança do ofício universal de Adão, designado a nós por Cristo.

Deus pôs Adão para trabalhar como sacerdote-rei e incumbiu-o de cuidar e trabalhar o jardim. “Expanda o Jardim, Adão. Obedeça a minhas palavras. E mantenha longe as serpentes mentirosas, pois o Jardim é onde eu, o Senhor, habito.”

Quando Adão falhou, o ofício de sacerdote-rei passou para Noé, depois Abraão e, finalmente, para a nação de Israel. O “comércio familiar” virou “reino de sacerdotes” (Êx 19:6). Ao mesmo tempo, Deus separou uma classe de sacerdotes e uma classe de reis para que suas responsabilidades fossem claras. O trabalho do sacerdote, como o de Adão no Jardim, era “trabalhar” e “vigiar” o tabernáculo/templo, mantendo-o consagrado ao Senhor (Nm 3.7-8; 8.26; 18.5-6). Eles designavam o que era puro e impuro, santo e profano. O trabalho do rei era estabelecer ordem e domínio seguindo a lei de Deus (Dt 17.14-20).

Quando falharam em seus papéis Israel coletivamente e reis e sacerdotes individualmente, os profetas prometeram que os ofícios mediadores de sacerdote e rei seriam “democratizados” de novo (Jr 31.33-34). Cristo viria como o sacerdote e rei perfeito, o segundo Adão federal, e pela nova aliança no seu sangue, designaria novamente um povo da nova aliança que seria:

  • Uma raça eleita — novos Adãos;
  • Um sacerdócio real — uma democracia de sacerdotes-reis;
  • Uma nação santa — um novo Israel;
  • Um povo para posse de Deus (1Pe 2.9).

Estes sacerdotes oferecem sacrifícios de obediência em toda a vida, suas atividades diárias servindo de testemunho mediador ao mundo (Rm 12.1-2; 1Pe 2.5). Eles constituem o templo onde Deus habita, como habitou no Jardim e no tabernáculo (1Co 3.16-17), o que implica obrigação sacerdotal uns para com os outros: não estarem em jugo desigual, separarem-se e não tocarem em coisa impura, para que a santidade se complete (2Co 6.14–7.1). Para isso, usam as chaves do reino de maneira sacerdotal, mantendo clara a linha entre dentro e fora do povo de Deus (Mt 16.19; 18.15-20).

Ao mesmo tempo, todo membro da igreja recebeu uma tarefa régia: fazer discípulos e ser embaixador da reconciliação, trazendo o território dos corações à submissão a Deus (Mt 28.18-20; 2Co 5.18-20).

O que é membresia da igreja? É assumir o trabalho de Adão, graças à nossa inclusão em Cristo. É o reconhecimento público de que entramos no ofício de sacerdote-rei. “Expanda a igreja, membro da igreja. Obedeça minhas palavras. Testemunhe de mim em toda a vida. E não receba serpentes mentirosas como membros, pois a igreja é onde eu, o Senhor, habito.”

Irineu resumiu isso cem anos após o Novo Testamento ser escrito: “Pois todos os justos possuem a ordem sacerdotal [sacerdotali ordinem]” (Contra as Heresias).

Quase dois mil anos depois, Herman Bavinck disse algo semelhante: “E assim como todos os crentes têm um dom, todos também têm um ofício. Não só na igreja como organismo, mas também como instituição, têm um chamado e uma tarefa dadas pelo Senhor” (Dogmática Reformada, 4.375).

Qual é o trabalho do membro?

Esse é o pano de fundo bíblico-teológico. Concretamente, qual a autoridade e o trabalho de cada membro? Nosso trabalho é compartilhar e proteger o evangelho, e afirmar e supervisionar os crentes professos — membros da igreja.

Pense na “surpresa” de Paulo em Gálatas 1: “Admira-me que estejais passando tão depressa […] para outro evangelho” (v. 6). Ele repreende não os pastores, mas os membros, e lhes diz para rejeitarem até mesmo apóstolos ou anjos que ensinem um evangelho falso. Eles deveriam ter protegido o evangelho.

Ou na surpresa de Paulo em 1 Coríntios 5: os coríntios toleravam pecado não tolerado nem entre os pagãos (v. 1). “Vocês deveriam ter tirado do meio de vocês quem fez tal coisa”, disse à igreja toda (v. 2). Ele também descreve como isso deveria acontecer — não em reunião fechada de presbíteros, mas quando a igreja toda se reuni e age em conjunto: “Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor.” (vv. 4-5, NVI). O poder do Senhor Jesus está presente quando a igreja se reúne em seu nome; com esse poder, eles devem proteger o evangelho removendo o pecado da membresia.

Todo membro deve reconhecer: “É minha responsabilidade proteger o evangelho, e também receber e excluir membros. Jesus me deu essa responsabilidade.” Usando a linguagem dos negócios, somos todos proprietários, compartilhamos perdas e lucros.

Portanto, pastores que afastam membros desse trabalho, seja pela estrutura formal ou por tratá-los como consumidores, minam o senso de pertencimento e inclusão dos membros. Cultivam complacência, nominalismo e, eventualmente, liberalismo teológico. Matar a membresia hoje traz compromissos bíblicos amanhã.

Claro que o trabalho vai muito além de comparecer às reuniões e votar sobre novos membros. O trabalho do membro dura os sete dias da semana. É diariamente representar Jesus e proteger seu evangelho na vida uns dos outros.

Devemos estudar e crescer no conhecimento do evangelho e considerar suas implicações para o arrependimento. Devemos buscar conhecer e ser conhecidos pelos irmãos, sete dias por semana. Não podemos cuidar e supervisionar pessoas que não conhecemos, pelo menos não com integridade. Não é um programa de fidelidade de posto de gasolina: preencher um formulário e sair dirigindo.

Qual é o trabalho do pastor?

Efésios 4 diz que o papel dos pastores é equipar os santos para o ministério da edificação da igreja (vv. 11-16). Note que há dois trabalhos: um dos pastores (equipar os santos); outro dos membros (o ministério da edificação do corpo de Cristo).

A reunião semanal da igreja é tempo de treinamento para o trabalho. Pastores equipam membros para conhecer o evangelho, vivê-lo, proteger sua testemunha e estender seu alcance. Se Jesus incumbiu membros de afirmarem e edificarem uns aos outros, incumbiu os pastores de treiná-los. Se os pastores falham, os membros também falham.

Juntando o ofício do pastor com o do membro, temos o programa de discipulado de Jesus.

Conclusão

Quando alguém quiser entrar na igreja onde pastoreio, digo algo assim na entrevista:

Amigo, ao entrar nesta igreja, você se torna corresponsável por esta congregação continuar proclamando fielmente o evangelho. Isso significa que você será responsável tanto pelo que esta igreja ensina quanto pela fidelidade da vida dos seus membros. E um dia terá de prestar contas a Deus sobre isso. Precisamos de mais mãos na colheita e esperamos que você venha junto.

A entrevista de membresia é uma entrevista de trabalho, afinal. Quero garantir que saibam disso. Quero garantir que estejam prontos para o desafio.

 

[1] Charles Hodge, Discussions in Church Polity (1878; repr., New York: Westminster Publishing House, 2001), 346.

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