Membresia

Nove dicas para implementar membresia em igreja já existente

Artigo
23.03.2017

“Como nós podemos nos envolver no ministério nesta igreja?”

O experiente casal desejava começar a servir naquele mesmo dia – realizando pequenos grupos em sua casa, liderando estudos bíblicos, qualquer coisa. Encorajado pelo entusiasmo deles, eu simplesmente os instei a continuarem visitando a igreja e conhecendo-a melhor. O fato é que novos freqüentadores não devem servir a igreja de nenhuma maneira oficial, seja servindo café ou cuidando voluntariamente das crianças.

Isso não é porque nós somos mesquinhos ou hostis. É porque nós cremos que a pergunta mais importante que deve confrontar um novo freqüentador em qualquer igreja é esta: Qual é o seu estado diante de Deus? Você foi perdoado de seus pecados e adotado em sua família? Até que você tenha abordado essas questões, o seu serviço na igreja pode simplesmente distraí-lo dessas perguntas mais importantes.

Nós não sabíamos quem “nós” éramos

Quando eu comecei a pastorear a United Christian Church of Dubai em 2005, nós não sabíamos quem “nós” éramos.

Não havia nenhuma lista atestando quem era e quem não era um membro em situação regular de nossa igreja. Havia apenas algumas centenas de pessoas que apareciam a cada semana, algumas regularmente, outras não. Pessoas que nunca haviam se comprometido com a igreja estavam não apenas servindo café, mas também liderando pequenos grupos. Os presbíteros não sabiam, mas alguns desses líderes oficiais nutriam visões heterodoxas, como o universalismo e o modalismo. Eles nunca haviam sido examinados por meio de qualquer processo de membresia.

Paulo instruiu os presbíteros em Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos” (Atos 20.28). Sem membresia, como podemos nós saber quem é esse rebanho, a fim de que possamos orar por ele e cuidar dele? Os membros são simplesmente aqueles que por acaso aparecem em nossas reuniões semanais? Hebreus 13.17 diz que nós iremos “prestar contas” do rebanho que nos foi confiado. Assim, é importante saber quem é esse rebanho.

Foi por essa razão que minha igreja começou a adotar uma membresia de igreja formal, seis anos atrás. Ao estabelecerem a membresia, os presbíteros podem conhecer e cuidar do rebanho que lhes foi confiado.

Entrando em turbulência

Todos na igreja UCCD concordavam com a membresia enquanto ela permanecia opcional. Ninguém fazia objeção à membresia enquanto ela era apenas para os líderes, ou para os muito comprometidos, ou uma nova técnica de gerenciamento. Mas, quando nós apresentamos a membresia como uma expectativa para todos os crentes em nossa congregação, houve turbulência. Muitas pessoas não entendiam ou concordavam que a membresia era uma expectativa bíblica. Alguns até mesmo a consideravam legalista, facciosa ou excludente.

O processo de entrevista para novos membros foi especialmente contestado. Um indivíduo escreveu: “Eu nunca estive numa igreja onde você sente que precisa passar num teste como cristão para pertencer à família. A experiência de igreja como um todo deveria ser de amor e cuidado. […] É óbvio que você primeiro convida amorosamente os membros para a igreja e, se percebe que eles necessitam de liderança ou mentoria adicionais para crescerem como cristãos, então você pode fazer alguma coisa. Nós temos sentido como se tivéssemos de ‘passar por média’ antes de podermos pertencer à igreja UCCD, e eu tenho certeza de que esse não é o modo como Deus planejou”.

Membresia: a segunda ferramenta mais importante da reforma

Seis anos depois, a despeito dessas objeções, nós descobrimos que a membresia bíblica de igreja tem sido vital para fortalecer a nossa igreja. De fato, além da pregação da Palavra, eu creio que o modo mais importante de reformar uma congregação é implantar uma membresia.

Lições aprendidas ao longo do caminho

Aqui estão algumas lições que aprendemos ao longo do caminho.

1. Primeiro, ensine a respeito.

O caminho mais eficaz para indispor uma congregação é começar a mudar a cultura da igreja sem apresentar um fundamento bíblico para a mudança. Paulo exortou Timóteo a ministrar “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Timóteo 4.2). Se a sua igreja viveu por anos sem uma membresia bíblica, então pode levar anos para se ver uma mudança bíblica verdadeira.

2. Pregue expositivamente.

À medida que as pessoas crescem espiritualmente ao ouvirem a Palavra pregada a cada semana, elas se tornarão mais receptivas a argumentos bíblicos acerca do governo eclesiástico e, de fato, acerca de todas as áreas da vida. “O Espírito dá vida” (João 6.63, NVI) e ele usa a Palavra para fazê-lo.

3. Eleve o nível do que significa ser um cristão.

Enfatize em sua pregação a santidade de Deus, juntamente com a correspondente exigência de que o povo de Deus reflita o seu caráter (p. ex., 1 Pedro 1.16).

Por meio de uma dieta perseverante de pregação expositiva, aponte para a disciplina eclesiástica no Novo Testamento (ver, por exemplo, Gálatas 6.1-2; 2 Tessalonicenses 3.6-15; 1 Timóteo 5.19-20; Tito 3.10-11; Judas 22-23 etc.). No devido tempo, as pessoas podem se perguntar por que elas não têm visto a disciplina praticada em sua igreja. A disciplina eclesiástica é a evidência bíblica mais clara em favor da membresia de igreja (por exemplo, Mateus 18.15-20; 1 Coríntios 5; também 2 Coríntios 2.6).

Uma igreja é um grupo identificável de crentes que estão conscientemente comprometidos uns com os outros. As suas vidas não são perfeitas, mas pela graça de Deus eles são, de um modo substancial e observável, diferentes do mundo à sua volta. À medida que você sublinhe o significado de ser a “nação santa” de Deus (1 Pedro 2.9), a membresia começará a fazer mais sentido.

4. Faça aplicações corporativas em seus sermões.

Não aplique a Escritura apenas a crentes individuais. Peça às pessoas que considerem o que uma passagem diz à igreja como um todo. Com o passar do tempo, isso as direcionará para uma responsabilidade comunitária e pactual de uns para com os outros.

5. Dissemine essa visão entre os presbíteros e outros líderes.

Distribua o livreto Refletindo a glória de Deus, de Mark Dever,[1] aos potenciais líderes de sua igreja. Se os seus líderes preferirem comédia, tente o livro Plantar igrejas é para os fracos, de Mike McKinley.[2] Converse com eles sobre os argumentos para uma congregação biblicamente organizada.

6. Seja você mesmo um modelo robusto de vida comunitária.

Faça de sua vida um microcosmo da forte comunidade corporativa que você deseja ver em sua igreja. Seja hospitaleiro. Almoce com homens que estejam respondendo ao seu ministério. Comece a construir uma comunidade nuclear que reconheça o valor de prestar contas e ter comunhão. Comece pequeno, seja paciente em suas interações com outros e ore por elas.

7. Ore para que Deus enriqueça as relações em sua igreja, de modo que a membresia faça sentido.

Sem uma comunidade cristã genuína, a membresia é apenas uma casca. Nós dependemos do Espírito Santo para criar as afeições fraternais e manter a unidade que a membresia expressa de modo tão belo. Esteja em constante oração pela comunhão e pelos relacionamentos em sua igreja. Encoraje conversas espirituais. À medida que os relacionamentos em sua igreja se aprofundam, confissão de pecado e correção se tornarão mais comuns.

8. Implante um pacto eclesiástico para enfatizar a responsabilidade corporativa.

Um pacto é uma promessa que cada membro faz de amar e cuidar da igreja. Ele também especifica as obrigações que os crentes têm uns com os outros. Se a sua igreja tem mais de 50 anos, vocês provavelmente já têm um pacto perdido em algum lugar do armário. Desempoeire-o e o reintroduza em sua igreja, mas apenas depois de haver ensinado os conceitos o bastante. Se vocês não têm um pacto, considerem usar este aqui.[3]

A fim de se certificarem de que o pacto é de fato um documento “vivo” em sua igreja, recitem-no juntos antes da Ceia do Senhor ou das reuniões de membros. A verdadeira membresia é composta por aqueles que conscientemente fizeram um pacto com os demais em sua igreja. Sem um pacto e uma membresia, sua igreja pode ser apenas um ponto de pregação.

9. Prepare-se para objeções.

Objeção nº 1: Nós nunca fizemos isso antes.

Resposta: Deixe que a Bíblia, não a tradição, estabeleça o que você faz na igreja. Considere a prevalência da disciplina eclesiástica no Novo Testamento (p. ex., Mateus 18.15-17, 1 Coríntios 5, 2 Coríntios 2.6). Se é possível expulsar alguém de uma assembléia identificável, é possível também admitir alguém. Isso é membresia. E o Novo Testamento presume que todos os cristãos são membros de igrejas.

Objeção nº 2: Membresia é algo legalista e sem amor.

Resposta: Pode ser, mas não o é necessariamente nem deve sê-lo. De fato, permitir que alguém permaneça confortavelmente parte de sua igreja, sem nunca confrontá-lo com a questão de se ele ou ela está de pé diante de Deus, talvez seja a coisa menos amorosa que você jamais possa fazer. É preciso reconhecer que a membresia sozinha não tornará a sua congregação mais amorosa, mas ela deveria ser uma potente demonstração da comunidade forjada pelo Espírito.

Objeção nº 3: Consome tempo demais. Ao final de uma cansativa reunião de presbíteros, quem deseja dedicar atenção a uma dúzia de formulários de entrevista de novos membros e conversar sobre detalhes, vidas e testemunhos de indivíduos? Certa vez, um presbítero me perguntou: “Não podemos delegar isso a um diácono?”.

Resposta: O chamado primordial de um presbítero não é gerenciar programas, mas “[atender] por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos” (Atos 20.28). O que poderia ser mais inerente a esse chamado do que ver novos membros entrando e velhos membros saindo?

A membresia antecipa as questões mais importantes

Outra razão para praticar a membresia de igreja é que ela antecipa as mais importantes questões. O processo de triagem e o contato pastoral são vitais para a igreja.

Certo homem do Iêmen quis ser membro da UCCD, mas, baseado na entrevista, ele claramente não era um crente. Cientes desse fato, nós começamos a trabalhar com ele as verdades básicas do evangelho. Agora ele é um cristão frutífero que compartilha o evangelho com outros. Quando outro homem da África do Sul passou pelo processo de membresia, ele não podia explicar o evangelho claramente, embora parecesse crer na Verdade e desse evidência do fruto da fé. Após algumas conversas mais intencionais e o livro Cristianismo básico de John Stott,[4] a sua fé começou a se aprofundar e a florescer. Agora ele serve fielmente como diácono em nossa igreja. Muitas outras pessoas têm sido salvas e fortalecidas por meio do processo de membresia na UCCD.

É claro que nem todo mundo é persuadido.

Três anos atrás, um marido que estava descontente com nosso processo de membresia escreveu aos presbíteros acerca de sua esposa, que estava perturbada após a entrevista de membresia: “A experiência como um todo a fez questionar a fé cristã”, ele disse.

Ele não percebeu que é exatamente para isso que a membresia existe.

Ela existe para nos fazer examinar a nossa fé (2 Coríntios 13.5). Por quê? Não porque nós pastores somos abrasivos, insensíveis ou antipáticos. Não porque cremos ser melhores que os outros, ou porque estamos na posição de julgar a fé das pessoas. Em vez disso, nós devemos permitir que o processo de membresia da igreja nos faça examinar a nossa fé porque a pergunta “Eu sou mesmo um cristão?” é uma das questões mais importantes que jamais podemos enfrentar.

Notas:

[1] Mark Dever. Refletindo a glória de Deus: elementos básicos da estrutura da igreja: diáconos, presbíteros, congregacionalismo e membresia. São José dos Campos: Fiel, 2008.
[2] Mike McKinley. Plantar igrejas é para os fracos. São José dos Campos: Fiel, 2013.
[3] Em inglês.
[4] John Stott. Cristianismo básico. Viçosa/MG: Ultimato, 2007.

Mais articles marcado como: