Membresia

Pastoreando os Indolentes

Por Owen Strachan

Owen Strachan é professor assistente de Teologia Cristã e História da Igreja na Boyce College, uma faculdade parte do Southern Baptist Theological Seminary, nos EUA. Dr. Strachan também é diretor executivo do The Council on Biblical Manhood & Womanhood.
Artigo
23.10.2014

É um lugar-comum: o jovem seminarista inicia seu primeiro pastorado. Ele está preparado para sofrer, transbordando de convicção teológica, desejoso de amar as pessoas. Ele está pronto a encontrar o diabo no campo de batalha. Os sermões do ano inteiro estão planejados. Ele está sonhando alto, orando muito e pronto para começar.

Então, ele se depara com torpor. Indiferença. Preguiça espiritual.

Em sua autobiografia The Pastor [N.T.: publicado no Brasil com o título Memórias de um Pastor], Eugene Peterson reflete sobre isso. Em seus primeiros dias, a igreja que ele plantava produziu “uns poucos santos maduros que sabiam como orar e ouvir e perseverar”, mas também “um considerável número de pessoas que praticamente só frequentavam os cultos” (128). Eles eram “os indiferentes”, e havia muitos deles.

Em tal situação, ao encarar a letargia espiritual em uma congregação, o que um pastor deveria fazer?

Diagnosticando o Problema

Primeiro, ele deveria pensar cuidadosamente, e não reflexivamente, acerca dos fatores que podem estar contribuindo para essa triste situação. Aqui estão alguns dos principais.

Uma Cultura de Baixas Expectativas

Muitos leitores do 9Marks estão familiarizados com o que aconteceu no evangelicalismo americano no final do século XIX e início do século XX. Por várias razões, muitas igrejas aderiram a um modelo mais pragmático, empresarial e voltado para o consumidor. Esse modelo era bom em atrair as pessoas, mas não em engajá-las.

Adivinha? Se você trata as pessoas como consumidoras, é assim que elas agirão. Se você as recruta para serem espectadoras, é isso que elas serão. É assim que um bom número de frequentadores de igreja americanos se encontra hoje.

Uma Fraca Membresia de Igreja

Seguindo de perto o ponto anterior, muitos caras da metade para o fim do século XX de fato aderiram a igrejas. A explosão evangélica do pós-guerra – narrada na vindoura biografia de Billy Graham, por Grant Wacker, e em obras seminais como Revive Us Again (Oxford, 1997), de Joel Carpenter – conduziu a um enorme aumento na frequência e na membresia das igrejas nos anos 1950.  Todavia, a cultura de igreja mencionada anteriormente fez com que muitas pessoas não estivessem treinadas para ver a sua lealdade congregacional como algo significativo ou, eu ousaria dizer, custoso.

Em um bom número de comunidades, você se filiava ao Kiwanis Club, ao Rotary, à Junior League e a uma igreja. Não é que a participação na igreja fosse um ritual vazio; um bom número de caras foi genuinamente convertido nesse período. Porém, muitos membros de igreja não foram treinados para pensar na igreja como a “verdadeira cultura”, como Stanley Hauerwas defendeu, mas, ao invés disso, como parte da cultura em sentido mais amplo.

A Pecaminosidade Natural do Homem

Os dois pontos anteriores são o que poderíamos chamar de “problemas legados”. Essas são realidades que moldaram muitas das igrejas existentes nas quais os pastores entram hoje. Mas há também problemas menos culturais e mais nativos que inclinam os caras das igrejas para a passividade e a preguiça.

O nosso movimento evangélico moderno, particularmente o ramo do amor gracioso (do qual eu sou um participante entusiasmado), possui uma tendência de tomar um texto bíblico, talvez um ancorado na misericórdia de Deus mas com algumas arestas pontiagudas, e então suavizar tudo. Fazer dele um evangelho diluído.

Com efeito, nós deveríamos ler toda a Escritura com lentes teológicas, e com Cristo no centro. Mas, se não estivermos em sintonia com a real ênfase e estilo dos autores bíblicos (e não com um malfeito e descuidado pastiche de sua obra), passagens como Tito 1.10-16 podem soar muito ásperas aos nossos ouvidos modernos:

Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade. Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.

Paulo conhecia as glórias da graça em primeira mão e, contudo, ele poderosamente condena a cultura de preguiça que havia em Creta. Ele não se deteve. Ele deixou claro que havia naquela região tendências para a indolência. Ele também deixou claro que a preguiça e o fracasso em seguir o Senhor de todo o coração e em engajar-se na missão de Deus são pecados vergonhosos. Tais comportamentos são também perigosos, pois a passividade indolente deixa as pessoas vulneráveis ao falso ensino, particularmente o ensino orientado para o lucro egoísta.

Fatores Invisíveis: Desencorajamento, Dor, Necessidade de Investimento

Indolência espiritual é um pecado. Esse é o nosso ponto de partida para lidarmos com ela. Além dessa verdade, contudo, quais são alguns possíveis problemas que se põem como obstáculos ao envolvimento significativo da igreja?

  • Uma cultura de liderança áspera ou opressora pode haver ferido membros frágeis.
  • Os modelos não bíblicos para a vida da igreja mencionados acima podem haver genuinamente convencido as pessoas de que elas devem gastar pouca energia na igreja. E se as pessoas gastam pouca energia na igreja, elas dificilmente agirão com ousadia piedosa em outras áreas da vida.
  • Alguns caras podem ter um desejo de se envolver na obra do evangelho na igreja local, mas não têm a menor ideia de por onde começar. Eles precisam ser mentoreados e discipulados. Em muitas igrejas, se você perguntar aos membros sobre quantos deles foram pessoalmente treinados por um líder de igreja em qualquer momento de sua membresia – alguns estão lá por décadas –, eu aposto que o número de respostas negativas iria chocar muitos de nós.
  • De modo similar, algumas pessoas precisam de encorajamento. Elas genuinamente (e erradamente) não acham que possam servir a igreja.
  • Alguns caras vêm de tradições que corretamente respeitam a liderança da igreja, mas erradamente obscurecem o “sacerdócio de todos os santos”. Eles pensam que apenas o clero pode servir ao Senhor.