Liderança

O Poder do Exemplo

Por Mark Dever

Mark Dever é diretor do Ministério 9 Marcas, nos Estados Unidos, e pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, em Washington D.C. Graduado na Universidade de Duke, obteve mestrado em Divindade no Gordon Conwell Theological Seminary e Ph.D. em História Eclesiástica na Universidade de Cambridge.
Artigo
18.10.2014

“Exemplo não é a coisa principal na vida – é a única coisa”. Por meio dessa frase, o famoso missionário médico e autor Albert Schweitzer estabeleceu claramente a importância e o poder do exemplo. Quantos de nós que lemos isso fomos influenciados pela vida poderosa de algum pastor, presbítero ou outro cristão com quem nos deparamos outrora em nossas vidas? Se eu mencionar um “pastor fiel”, que imagem surge em sua mente? Se eu mencionar um “cristão fiel”, em quem você pensa?

A frase de Schweitzer é exagerada, é claro. Muitas outras coisas estão envolvidas em uma vida fiel, contudo essas mesmas coisas estão todas combinadas no exemplo que alguém apresenta.

“Mentoria” e “formação” podem soar como conceitos novos, mas não são. Pela própria maneira como Deus nos criou, parece que isso estava em Sua mente. Ele criou os homens à Sua imagem. Nós devemos seguir o Seu exemplo e imitar o Seu caráter. Na encarnação de Cristo, Deus veio em carne de um modo que pudéssemos compreendê-lo e nos relacionarmos com Ele, e, como Pedro disse, “deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21).

Nós também somos chamados a participar neste ministério de apresentar e seguir exemplos. Deus criou os homens para nascerem e amadurecerem na compania de outros homens, na família. Nós não somos autogerados, nem surgimos instantaneamente como pessoas maduras. Deus planejou que pais amorosos fossem parte do modo como os homens deveriam crescer.

Esse é também o modo como Deus planejou tornar-se conhecido neste mundo caído. No Antigo Testamento, Deus chamou Abraão e seus descendentes para serem um povo santo, especial e distinto no mundo. Eles deveriam ser especiais de modo que o mundo tivesse um retrato de uma sociedade que espelhasse o caráter de Deus – encarnando Suas preocupações e valores. Quando Deus disse a Seu povo, em Levítico 19, que eles deveriam ser santos “porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo”, Ele não estava falando meramente a um indivíduo, a Moisés, Arão ou Josué. Decerto Ele estava falando a eles, mas nós vemos em Levítico 19.1 que Deus especificamente instruiu Moisés a dizer isso a toda a congregação de Israel. As leis que Ele então lhes deu tinham muito a ver com relacionamentos, equidade, justiça e interações sociais. Ele revela que, à medida que esse povo cuidava uns dos outros – do perdido e do pequenino, do estrangeiro e do jovem –, ele demonstraria algo do caráter de seu Criador justo e misericordioso.

O fracasso de Israel em ser um modelo de ministério aos outros é uma das principais acusações de Deus contra a nação no Antigo Testamento. Assim, em Ezequiel 5, o papel de Israel passa a ser o de instruir as nações por meio de um exemplo negativo. O SENHOR diz a Israel: “Esta é Jerusalém; pu-la no meio das nações e terras que estão ao redor dela. […] Pôr-te-ei em desolação e por objeto de opróbrio entre as nações que estão ao redor de ti, à vista de todos os que passarem. Assim, serás objeto de opróbrio e ludíbrio, de escarmento e espanto às nações que estão ao redor de ti, quando eu executar em ti juízos com ira e indignação, em furiosos castigos. Eu, o SENHOR, falei” (5.5, 14-15). Uma vez e de novo, em Ezequiel, Deus diz que Ele fará o que fará à nação de Israel por amor ao Seu próprio nome, isto é, pela verdade acerca de Si mesmo que há de ser conhecida entre os povos do mundo.

Esse testemunho corporativo de Si mesmo é o que Deus também planejou para a igreja no Novo Testamento. Em João 13, Jesus disse que o mundo haveria de conhecer que somos Seus discípulos por causa do amor semelhante ao de Cristo que teríamos uns pelos outros. Paulo escreveu à igreja de Éfeso: “outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” (Efésios 5.8).

Em nossas vidas como cristãos, individualmente, e com efeito multiplicador em nossa vida de comunhão como igrejas, nós sustentamos a luz da esperança de Deus neste mundo escuro e desesperador. Por meio de nossas vidas como cristãos, nós estamos ensinando uns aos outros e ao mundo sobre Deus. Se amarmos uns aos outros, nós mostramos algo do que significa amar a Deus. E, por outro lado, “aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1João 4.20). Em nossa santidade, nós mostramos a santidade de Deus. Nós somos chamados a dar às pessoas a esperança de que há outra maneira de viver, além da vida de frustração egoísta que nossa natureza caída e o mundo ao redor conspiram para nos encorajar a seguir.

Companheiros pastores e presbíteros, o que nossas igrejas estão ensinando sobre Deus ao mundo que nos assiste? Estamos ensinando-lhe que Deus é limitado à nossa raça? Estamos ensinando-lhe que Ele tolera pecado e infidelidade, vidas absorvidas em si mesmas, em mesquinhez e desavenças? Quão seriamente temos guiado nosso povo a assumir a grande tarefa e privilégio que temos de ser o mostruário, a vitrine, o outdoor, a página da internet do caráter de Deus para a Sua criação?

Que tremendo privilégio Ele nos deu, e quão pouco nós parecemos considerá-lo! Nós pensamos que, se trouxermos mais pessoas para nossa igreja, isso de algum modo anulará nossa responsabilidade por aqueles que já foram recebidos como membros. Mas que testemunho cada um desses está apresentando neste exato momento? Quanto você precisará trabalhar para sobrepujar seus maus testemunhos, de modo que as pessoas possam ver o bom testemunho que Deus está provendo por meio daqueles que são verdadeiros convertidos, e estão demonstrando isso!

Todo o exercício da disciplina eclesiástica não é, em última instância, sobre retribuição ou vingança. Esses são assuntos de Deus, não de pecadores perdoados como nós (Dt 32.35; Rm 12.19)! Mas nós, de fato, temos a preocupação de apresentar um bom testemunho aos outros acerca de como Deus é. Nós devemos ser exemplares em nossas vidas e conduta. Você nota que, em suas epístolas pastorais, Paulo parece particularmente preocupado com a reputação que um presbítero teria diante daqueles que estão fora da igreja? Embora possa haver um número de razões para isso, uma certamente é o papel do presbítero como representante da igreja perante o mundo. Então, isso é também o que a igreja como um todo deve ser. Era por isso que Paulo estava tão enfurecido em 1Coríntios 5. E você percebe exatamente contra quem Paulo vociferou? Ele não repreendeu o homem que estava naquela união sexual pecaminosa; em vez disso, ele reprovou severamente a igreja que tolerava tal pecado entre seus membros! Nós conhecemos a triste verdade de que alguns em nosso meio mostrarão estarem perdidos no pecado, muito embora tenham feito uma boa confissão no início. Nós confiamos que pelo menos alguns deles viverão a ponto de se arrependerem e voltarem. Mas nós jamais podemos esperar que a igreja, corporativamente, negligencie sua responsabilidade de bem representar Deus ao se colocar firme em favor da santidade e contra o pecado. Era esse problema – muito semelhante ao pecado da idolatria de Israel no Antigo Testamento – que estava no centro da severa reprovação de Paulo à igreja corintiana.

Amigos, o que o apóstolo Paulo diria acerca de sua igreja e da minha? Quanta falta de freqüência nós toleramos em nome do amor? Quantos relacionamentos adúlteros ou divórcios antibíblicos nós permitimos ocorrerem inadvertidamente em nossas igrejas, embora eles gritem para o mundo que “nós não somos diferentes dos demais”? Quantas pessoas facciosas nós permitimos levarem a igreja à divisão por coisas mínimas, ou quantos falsos evangelhos nós permitimos serem ensinados?

Queridos irmãos, se algum de vocês está lendo isso como pastor, presbítero, líder, mestre ou membro de uma igreja, pense na grande responsabilidade que nós temos. Considere como nós podemos aperfeiçoar nosso testemunho acerca de Deus – será ignorando o pecado em nosso meio, ou trabalhando para restaurar afetuosamente aqueles que são descobertos em pecado, como Paulo instrui em Gálatas 6.1? O que melhor reflete o Deus a quem adoramos? Acaso, em Sua palavra, a misericórdia de Deus em algum momento obscurece a Sua santidade? E como seria diferente em Sua igreja? Qual tem sido nossa postura quanto a esse particular?

Preste atenção a que exemplo você apresenta ao mundo que o rodeia. Deus tem um grande plano para o Seu povo e para o Seu mundo; Ele nos chama a mostrarmos isso por meio de nossas palavras e de nossas vidas. Você está fazendo isso? Que Deus ajude cada um de nós a sermos fiéis neste grande chamado.