Adoração

9 dicas para um ministro de louvor

Artigo
25.04.2017

Minha igreja local está à procura de um líder de louvor. [1] Para isso, nosso pastor sênior reuniu um grupo de doze membros para formar um Comitê de Procura de um Líder de Louvor. Apesar da minha inaptidão musical, eu estava entre os convidados a servir.

Acho que estou igualmente agradecido e apavorado. Afinal de contas, o título “líder de louvor” não está em lugar nenhum do Novo Testamento. Esse fato seduz até os mais sensatos para o pessoal e superficial, no qual linhas previamente traçadas e firmes compromissos apenas evidenciam o que já temos visto, conhecido, ou com que estamos confortáveis.

Então, eu gostaria de transmitir algumas reflexões que desenvolvi enquanto orava pelo que a minha igreja realizará nas próximas semanas, e pelo que a sua igreja pode estar passando no momento.  Eu, de modo nada original, as intitulei  “Nove Marcas de um Líder de Louvor Saudável”.

NOVE MARCAS DE UM LÍDER DE LOUVOR SAUDÁVEL

Estou convencido de que estes nove tópicos são indispensáveis a qualquer um que lidera o louvor de uma congregação semana após semana.  Longe de serem exaustivos, eles são um conjunto de qualidades, posturas e características os quais eu creio que são informados pela Escritura e que devem transcender a cultura e a denominação.

1. Seu líder de louvor deve possuir as qualificações bíblicas de um presbítero.

Isso é importante. Mesmo que ele não seja chamado de presbítero, a congregação provavelmente o tratará como um. E é importante lembrar que as qualificações de um presbítero/ministro/pastor incluem a de ser “apto para ensinar.” Isso é o que líderes de louvor fazem, e a aptidão deles para ensinar (ou a falta dela) é evidenciada todas as semanas, nos louvores que eles selecionam e na maneira como eles promovem a adoração da congregação.

Preciso fazer uma ressalva aqui. Dependendo de como a condução do canto se deem sua própria congregação, possuir as qualificações de um presbítero pode ser desnecessário. Um amigo discordou proveitosamente de mim nesse ponto e propôs uma útil distinção: “Uma pessoa que esteja apenas liderando musicalmente precisa ter as qualificações bíblicas de um diácono/diaconisa. Uma pessoa que esteja liderando aquele momento do culto que inclui cânticos, orações e leituras precisa ter as qualificações de um presbítero”. Eu concordo, sob o pressuposto de que esta segunda situação naturalmente impulsiona o “líder de louvor”, ou como você chamar, a desempenhar uma função mais pastoral.

2. Seu líder de louvor deve ser musicalmente capaz.

Isso é óbvio, eu sei. Talvez uma exortação mais específica e mais útil seria a de que ele deve escolher cânticos de acordo com suas habilidades. Você gosta daquele novo riff naquele hino antigo? É, eu também, mas é difícil de cantar junto quando eu não consigo decifras as palavras ou a melodia tão facilmente quanto o olhar de  “Ah, cara, tenho que acompanhar” do baterista do guitarrista.

Além disso, não é sábio deixar essa capacitação governar o barco; na verdade, ela é que deve ser subordinada a quase tudo o mais. Um músico piedoso e mediano servirá nossas igrejas muito melhor em longo prazo do que um sublime talento que lê mais suas partituras do que sua Bíblia.

3. Seu líder de louvor deve ser (quase) invisível.

Um visitante, ao deixar a reunião de domingo, deve ser mais impactado pelo testemunho corporativo da congregação louvando a Deus com cânticos do que pela habilidade ou atuação de um único homem. “Uau, aquele povo ama cantar sobre Jesus!” é sempre melhor do que “Nossa! Aquele cara é muito bom!”.

4. Seu líder de louvor deve ser comprometido com uma liturgia ancorada no evangelho.

Estou usando “liturgia” em um sentido geral, como o “decorrer” da reunião, não como um roteiro, uma fórmula repetida de quando se deve levantar, sentar e cantar e que deve ser repetida semanalmente. Toda reunião de igreja segue algum tipo de liturgia; a questão é se ela reflete o caráter de Deus e o conteúdo do evangelho ou se apenas segue a abordagem de “qualquer coisa que nos comova”.

Ancorar a liturgia no evangelho pode significar planejar transições entre os cânticos que ajudem a conduzir a congregação ao longo do culto. Leituras bíblicas, orações e testemunhos da graça de Deus ligados ao tema da passagem prestes a ser pregada – tudo isso prepara as mentes e os corações dos presentes. Preparação séria em oração antes do culto semeia uma cultura apropriadamente intencional em uma igreja. Não presuma que o Espírito Santo só opere “no momento”.

5. Seu líder de louvor deve trabalhar em total comunhão com o pregador.

O líder de louvor não toma decisões em uma ilha. Cada cântico deve estar a serviço da Palavra pregada. Isso lembra a igreja de uma verdade importante: o pregador também é um líder de louvor. Alguém adora a Deus tanto ao ouvir um sermão quanto ao cantar um cântico.

Isso não quer dizer que os temas dos sermões e dos cânticos devam ser estritamente idênticos. Mas se, por exemplo, seu pastor estiver pregando sobre a ressurreição, cante louvores que esclareçam o significado desse acontecimento, em vez de cânticos que se refiram à bondade de Deus em seu relacionamento geral com o seu povo. Este último é um assunto mais do que digno, é claro, mas a ressurreição é um acontecimento específico que revela coisas específicas sobre Deus e nós. Este tipo de cooperação entre cântico e sermão concede uma oportunidade de louvar a Deus específica e singularmente em resposta à sua revelação.

6. Seu líder de louvor deve ser comprometido com a expressão de uma grande variedade de emoções.

Toda reunião de domingo deve ter momentos de adoração, gratidão, confissão, celebração e assim por diante. A igreja deve ser um espaço onde uma variedade de emoções é aceitável: culpa, vergonha, tristeza, alegria, gratidão e por aí vai.  Quando apenas cantamos cânticos animados sobre o quão feliz nós somos por estar na casa do Senhor, ou como daremos o nosso melhor na próxima semana por Jesus ser incrível; nós implicitamente ensinamos às pessoas que se sentir triste, culpado ou injustiçado é de alguma forma algo subcristão, uma postura imprópria para louvar a Deus.

Há muitos cânticos que exaltam Jesus ao mesmo tempo em que são honestos sobre os sentimentos de tristeza e dor. Eu nunca me esquecerei de ter cantado “Be Still My Soul” poucos dias depois de saber do diagnóstico de câncer terminal de um amigo. Apesar de sombrio e elaborado para evocar emoções que provavelmente poucos presentes estavam sentindo, esse cântico me levou aos amorosos braços de Jesus. É possível que canções felizes façam isso também? Com certeza. Mas quando não há sequer uma menção de tristeza em nossas reuniões, corremos o risco de transmitir uma mensagem falsificada e subcristã sobre o que significa ser um humano buscando a semelhança de Cristo em um mundo caído. Estamos comunicando aos nossos membros e visitantes que os cristãos estão sempre felizes e que um relacionamento com Cristo erradica a dor. Estamos criando pessoas despreparadas ou que se decepcionarão diante da dificuldade.

7. Seu líder de louvor deve ser comprometido com a explícita adoração a Jesus.

Isso é menos sobre o tom e mais sobre as palavras de certas músicas. A grande maioria das músicas de uma igreja deve ser nitidamente cristã — exaltando não só as características de Deus, mas as verdades do evangelho. Nós devemos cantar poucos louvores que um judeu não convertido possa cantar alegremente – ou seja, devemos cantar sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Palavras como “pecado”, “evangelho” e “cruz” devem aparecer com frequência e, talvez, ser até mesmo explicadas aos presentes que, francamente, não saibam a diferença entre uma Igreja batista e uma sinagoga judaica. Presumir que todos os presentes sejam cristãos e saibam o que as palavras significam é uma receita para a confusão.

8. Seu líder de louvor deve incentivar e mobilizar a participação da congregação.

Além de incentivar o canto congregacional em voz alta, o líder de louvor também pode pedir que vários membros da igreja orem durante o culto. Isso oferece oportunidades para a visibilidade e a participação de muitos, e não apenas aos poucos com talento musical.

9. Seu líder de louvor deve estar primordialmente preocupado em honrar a Deus e defender Jesus e o evangelho, mais do que em alcançar a próxima geração ou qualquer outro público predeterminado.

Toda igreja deve ser culturalmente informada (é por isso que você provavelmente evita músicas tribais africanas), mas nenhuma igreja deve ser culturalmente dirigida. Se as conversas sobre resultados começam a substituir àquelas sobre fidelidade, então o primeiro passo foi dado em direção a uma mentalidade de culto centrada no homem, que precisará de renovação em poucos anos.

À parte de Cristo, toda a geração da raiz de Adão está morta em seus pecados, desesperadamente necessitada das palavras vivificantes de Cristo. Por isso, depois de sair da sua igreja no domingo, ninguém precisa pensar consigo mesmo: “Cara, a música foi demais!”. Mais do que qualquer coisa, eles precisam ter ouvido o evangelho de forma clara e explícita; precisam ter sido alertados de sua terrível situação à parte de Cristo e, ainda mais, de sua mão estendida como a daquele que é o seu Salvador todo-suficiente e sempre gracioso.

[1] A terminologia para esse tipo de serviço não é bem definida: ministro de música; pastor de música; pastor de música e artes, diretor-de-música-contemporâneaa-e-ocasionalmente-do–tradicional-canto-fúnebre, defesa contra o professor de artes obscuras etc. Eu estou usando apenas “líder de louvor”, pois me parece ser um termo que engloba todos os outros.

Nota: Uma versão anterior deste artigo foi postada no blog TGC Worship